Resenha | Os Braceletes da Perdição

É muito difícil falar sobre um livro que em sua última página tirou meu chão e me deixou sem palavras. Precisei de um tempo para compreender e assimilar tudo o que aconteceu, e isso é bastante comum toda vez que termino de ler um livro de Brandon Sanderson. Você faz o possível para se preparar para o epílogo, mas nunca é o suficiente.

Em Os Braceletes da Perdição, temos um misto muito interessante do que foi o primeiro e o segundo livro dessa nova era de Mistborn. A história é conduzida com bastante fluidez, junto com os personagens carismáticos que interagem cada vez mais de forma natural e divertida, com uma trama tensa, que cresce e se torna cada vez mais complexa.

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Alguns meses se passaram depois dos acontecimentos que encerraram o último livro. Agora, Wax, Wayne e Marasi se veem em uma difícil jornada para encontrar uma relíquia lendária conhecida como Os Braceletes da Perdição, que pertencia ao Senhor Soberano e é capaz de oferecer todo o poder que lhe pertencia. O que torna tudo ainda mais complicado, é saber que o tio de Wax, Edwarn, quem já provou possuir pretensões inadequadas, também está atrás da relíquia.

Wax é o tipo de personagem que está em constante evolução. É interessante porque no começo da série eu o via como um personagem experiente e maduro, mas diante dos conflitos cada vez mais amplos, ele precisa continuar progredindo. Ainda mais agora, quando ele se vê diante de um grande impasse de ter que deixar parte do seu passado para trás e se perdoar por escolhas que teve que tomar. O seu desenvolvimento continua interessante e eu gosto da forma como ele lida com os seus problemas.

Uma das personagens centrais, Marasi, ainda não tinha me conquistado o suficiente nos dois primeiros livros. Eu ainda a sentia distante, como se não conseguisse entender as motivações da personagem. Finalmente consegui compreendê-la, e entendi também que o meu sentimento com relação à personagem era muito das dúvidas que ela tinha consigo mesma. Além de se ver constantemente como a sombra de alguém, Marasi viu seu futuro e suas ambições mudarem e ainda não tinha certeza de qual posição gostaria de assumir. Essa incerteza aos poucos se transforma em convicção e Marasi começa a entender quem é e o que deseja.

Por outro lado, uma das grandes surpresas foi Steris, que até então se mostrava inibida e em uma posição irrelevante. A sistemática e tediosa noiva de Wax começa a se revelar aos poucos e mostrar quem realmente é, e que os julgamentos que recebe da sociedade não é justo. Ela não muda de uma hora para outra, apenas começa a permitir que a conhecemos de verdade. E com isso, se mostra uma personagem fascinante, peculiar e muito promissora.

Wayne atinge o seu ápice como grande emissor de baboseiras. Sempre imaginei que ele fazia o possível para se esconder atrás de suas piadas, enquanto finge que não leva nada a sério, mas agora estou convencida de que ele é simplesmente assim. Excêntrico, bobo e ao mesmo tempo espetacular. A maneira como ele age e enxerga o mundo beira o ridículo, mas é assustador como você é capaz de não só compreender, mas gostar do personagem. Apesar de algumas piadas de mal gosto, nas quais fiz o possível para relevar, os seus pontos de vista ainda são os meus favoritos.

Se você ainda não leu As Sombras de Si Mesmo, pule este parágrafo para não receber spoiler. Há outra personagem em especial que me conquistou desde sua primeira aparição no livro anterior, mas que continua somando pontos comigo com o seu jeito cativante e animado. MeLaan contagia a todos com o seu jeitão extrovertido e seus modos peculiares por pertencer à espécie dos Kandras. Ela é simplesmente incrível!

Como vocês podem perceber, o desenvolvimento de personagens foi muito bem trabalhado durante o livro e também um dos pontos mais interessantes. As personagens femininas em especial, ganharam bastante destaque na trama. Me sinto envolvida e apegada a todos eles (e isso é um perigo). A interação entre eles, além de natural é muito cômica. Juntos, eles formam uma equipe bastante singular e espirituosa, mas indiscutivelmente eficiente.

Do início ao fim, o livro tem um ritmo muito bom e prazeroso. Apesar de ser o maior livro da segunda era até aqui, foi o que li mais rápido. Você é movido pelos mistérios, enquanto acompanha uma história com uma narrativa fluida, momentos eletrizantes de ação e muito humor da parte dos personagens.

E Brandon Sanderson não para. Quando você já está começando a se acostumar com esse novo mundo e a evolução da tecnologia, ele mostra que há muito mais além, e como sempre, prova que nós não sabemos de nada. Que realmente sempre há outro segredo. O mundo continua se expandindo e o sistema de magia mostra que ela é ainda mais complexa do que temos conhecimento. Alguns elementos intrigantes foram inseridos nesse livro, o que me fez ficar ainda mais desesperada para a sequência.

Então, como já era de se esperar, o final me deixou bastante curiosa para a continuação, porque apesar de responder algumas questões, também apresenta muita coisa nova e desperta inúmeras dúvidas. Tive a sensação que a trama envolve um problema grande, que não abrange somente o mundo de Scadrial, mas também a Cosmere – universo compartilhado criado por Sanderson, onde passa a maioria de suas histórias.

Mas o epílogo. Aquele bendito epílogo. Especificamente falando sobre o último parágrafo. Me destruiu. Me deixou sem chão, reação e palavras. Mudou a concepção de tudo o que eu tinha lido até aquele momento. Eu preciso de respostas. Preciso de Secret History. Preciso do desfecho dessa história. Em nome de Harmonia, alguém pode me dizer quando The Lost Metal será lançado?

A Segunda Era de Mistborn promete agradar a maioria dos fãs da primeira trilogia, ou até mesmo quem está disposto a oferecer uma nova chance ao autor, por apresentar uma narrativa com elementos diferentes. A Segunda Era provou que é possível apresentar uma história leve, descontraída e ainda sim épica.


Os Braceletes da PerdiçãoTítulo: Os Braceletes da Perdição (Mistborn: Segunda Era #3)
Autor: Brandon Sanderson
Tradução: Alexandre Martins
Editora: Leya
Ano: 2017
Páginas: 384
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SINOPSE: a evolução do planeta está em risco, e caberá a Wax Ladrian lutar para garantir a harmonia conquistada a duras penas. Em Os braceletes da perdição, ele é recrutado para viajar ao sul para investigar a existência de metais que teriam pertencido ao Senhor Soberano, e conservariam seu poder. Mas, ele descobrirá pistas que apontam para o verdadeiro objetivo de seu tio Edwarn e da obscura organização da qual ele faz parte.

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9 Comments

  1. Ronildo

    A secret history… É magnifico, você vai revendo momentos, as lembranças surgem e uma nova visão se forma. As vezes doce, as vezes cômica e outras intrigante.
    Eu também pulei da cadeira ao ler o ultimo parágrafo, reli 3 vezes só para ter certeza. Bradon <3

    E parabéns pela resenha ficou ótima e sem entregar nada ;D Não consigo falar dos livros sem dizer muito =/

  2. Lucas Matos

    O Sanderson é um dos poucos autores que conseguem juntar um misto de felicidade literário com trauma. Não é de hoje que a escrita dele é considerada uma das melhores dos livros de fantasia. Mas na minha opinião a melhor carácter dele é a de tecer gramas e criar plotes que vão interagindo tanto no passado quanto no presente e futuro…

  3. Lucas Matos

    O Sanderson é um dos poucos autores que conseguem juntar um misto de felicidade literário com trauma. Não é de hoje que a escrita dele é considerada uma das melhores dos livros de fantasia. Mas na minha opinião a melhor característica dele é a de tecer tramas e criar plotes que vão interagindo tanto no passado quanto no presente e futuro…

  4. Jéssica Rabelo

    Oii Gihh!
    O Brandon Sanderson vai ser um daqueles autores que quando começar, simplesmente não irei conseguir parar. Se tem três coisas que gostou profundamente em livros, você citou com maestria em sua resenha Gih. Primeiro a construção dos personagens que fazem uma trama, segundo o tempo da narrativa que não se perde a marasmos e terceiro os plots que deixam a leitura sempre mais gostosa. Quanto mais você fala, mais sinto vontade de ler desse autor. E sinceramente, acho que estou pulando algumas leituras para realizar a de Mistbonr logo após terminar minha atual
    Arrasou na resenha.
    Beijos.

  5. Viviane Oliveira

    Essas ilustrações são tão lindas!
    É ótimo quando a série consegue te surpreender a cada volume 🙂 e vc continua a me deixar na ânsia para ler esses livros! hahah

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

  6. Viviane Almeida

    Olá, como vai? Olha só eu amei ler a sua resenha sobre essa trilogia, porque faz algum tempo que só estou lendo livros únicos e o motivo é que vários livros em série estavam ficando sem sentido a partir do segundo, parece os autores perderam a conexão entre um livro e outro.
    Por isso estou muito feliz em saber que essa trilogia fez você perder o fôlego até nos últimos minutos, assim que eu puder irei dar uma chance para ela. Eu também amei a foto que fez do livro, parabéns pela criatividade.

    Beijos e abraços
    http://resenhasdaviviane.blogspot.com.br/

  7. Joyce Santos

    Olá, também já me senti assim como você quando li um livro que me tirou meu chão e me deixou sem palavras.
    Passei uma semana tentando fazer a resenha, rs,rs.
    Gostei da sua resenha, vou anotar a dica e o que são essas ilustrações? Um arraso. Bom domingo.

  8. Eloise

    Oi Gisele,
    Ainda não tive oportunidade de ler as obras do autor, mas já fiquei fascinada pela sua descrição e resenha. Melhor coisa quando o autor sabe construir e desenvolver suas personagens. E amei saber que a história tem muita ação e humor. Esses finais que nos deixam de cabelo em pé ou com altas expectativas para o próximo volume são ótimos, adoro quando o autor faz isso hahahah me divirto ainda mais com a leitura!!!!

    Espero conhecer essas obras em breve!
    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com.br/

  9. Clube do Farol

    Algum dia eu vou acabar lendo essa saga por sua causa (ou culpa, se eu acabar sofrendo por algum motivo, rs).
    Já senti que posso amar alguns desses personagens só de ler a sua resenha, amo personagens bem construídos que tenham boa interação e humor, porque muitas vezes alguns autores criam um mundo fantástico, mas os personagens e os diálogos fazem o livro ficar arrastado :(.

    P. S. Fiquei com medo desse epílogo, rs.

    Parabéns pela resenha!
    Bjo
    ~ Danii

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