Ela seria o rei, de Wayétu Moore

“Ela Seria o Rei” foi o livro mais surpreendente que li em 2022, o que mais me impactou. Iniciei a leitura sem esperar ou saber nada e ela acabou me entregando tudo.

Aqui encontramos uma série de histórias. Gbessa foi amaldiçoada antes mesmo de nascer e exilada de sua tribo. June Dey é um escravizado da virgínia que possui uma força incomum. Já Norman Aragon, filho de um colonizador britânico, tem o mesmo dom de sua mãe, que é se tornar invisível. 

Todos eles possuem maldições em comum, ou bênçãos, dependendo do ponto de vista.

Até metade da leitura é muito difícil enxergar alguma conexão entre as histórias, e diversas vezes eu me questionava onde a autora queria chegar, se ela estava brincando comigo. A resposta é simples: calma. A história não é linear e isso pode trazer um pouco de confusão, principalmente no início, mas a autora sabe o que está fazendo, e no tempo certo tudo fará sentido.

Aliás, “Ela Seria o Rei” também é uma ficção histórica, porque temos alguns acontecimentos derivados da criação da Libéria, um país que resistiu a colonização dos europeus, mas não à influência malévola estadunidense.

“Se ela não fosse uma garota ou se não fosse uma mulher… Se ela não fosse uma mulher ou se não fosse uma bruxa, ela seria o rei”.

A essa altura você já deve ter percebido que não é uma história com temas fáceis de lidar, pelo contrário. Porque nossa própria história é sangrenta demais para ser diferente, mas é uma história maravilhosa, escrita com maestria. 

O que a autora faz aqui, desde a apresentação do narrador, até a construção das outras histórias, do aprofundamento dos personagens e seus conflitos. Eu quis bater palma em diversos momentos, quis gritar e perguntar o porquê não estava todo mundo lendo. Quis me expressar de diversas formas, mas no final, eu realmente fiquei sem palavras (mas é claro que a ansiedade de ver mais pessoas falando sobre essa história supera qualquer dificuldade, por isso eis me aqui :P).

Ela Seria o Rei” é um livro intenso, com inúmeras camadas para se discutir, mas sem dúvidas, a forma como Wayétu Moore escolheu conduzir essa história fez dela ainda mais incrível.

Só o que posso pedir é que confiem nessa recomendação, que dêem chance para esse livro, porque garanto que será muito recompensador. E depois voltem aqui para me contar 💙


Título: Ela seria o rei
Autora: Wayétu Moore
Tradução: Larissa Bontempi
Editora: Darkside Books
Ano: 2022
Páginas: 304

Na aldeia de Lai, Gbessa é amaldiçoada ao nascer e exilada de seu povo, pela suspeita de que seja uma bruxa. Mordida por uma cobra e deixada para morrer, ela sobrevive. Nascido como escravizado em uma plantação na Virgínia, June Dey esconde sua força incomum, até que um confronto o obriga a fugir. E, nas montanhas azuis da Jamaica, Norman Aragon, filho de um colonizador britânico branco e de uma escravizada Maroon, herdou o dom da mãe e consegue ficar invisível. Três vidas diferentes, mas com habilidades — ou maldições — em comum.
Estreia literária de Wayétu Moore, Ela Seria o Rei aborda a fundação da Libéria — um dos únicos países africanos não colonizados pelos europeus — a partir de uma mistura verdadeiramente fantástica de história e realismo mágico. O país foi fundado e colonizado no século XIX por escravizados americanos libertos, com o auxílio de uma organização privada, que acreditava que pessoas negras teriam mais chances de prosperar na África do que nos Estados Unidos.
Gbessa, incompreendida por seu próprio povo, encontra uma nova vida na colônia de Monróvia. Quando conhece June Dey e Norman Aragon, não demora muito para que eles percebam que são todos amaldiçoados. Juntos, eles protegem os fracos e vulneráveis, amenizando as tensões entre os colonos e as comunidades indígenas à medida que uma nova nação se forma.

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