Resenha | A Rainha do Fogo – Anthony Ryan
Faltou algo. Muito maior do que o sentimento de decepção – não acho que de fato me decepcionei – mas faltou alguma coisa. Talvez várias algumas coisas. Fui alertada de que este livro não era bom e que a maioria das pessoas se decepcionaram muito com ele. Me preparei ao máximo para essa leitura e comecei ela sem nenhuma expectativa, apenas pretendendo apreciar a história, me despedir dos personagens que aprendi a gostar tanto e torcer para ter as principais questões respondidas.
Apesar da leitura incrivelmente arrastada, este livro não é de todo ruim. Ele oferece a nós o desfecho da história de Vaelin e cia, e explica a maioria das dúvidas que surgiram ao longo da trilogia, apesar de ter deixado alguns pontos abertos. Porém, é um livro muito abaixo quando comparado à Canção do Sangue e O Senhor da Torre.
Não tive aquele sentimento gratificante ao terminar uma série. Respirar aliviada e querer abraçar o livro. A minha reação foi intrigante, como se… estivesse faltando algo. Não me senti convencida pela forma como a história foi contada.
Depois do arrebentamento que foi o livro anterior – uma avalanche de pontos de vistas, acontecimentos, tragédias e batalhas, nós iniciamos A Rainha do Fogo exatamente do ponto onde O Senhor da Torre termina, com a Rainha Lyrna determinada a recuperar o Reino Unificado e mais do que isso, colocar um ponto final de vez em seu inimigo.
O primeiro terço do livro foi positivo, direto e sem enrolação. Me pegou até um pouco de surpresa, porque imaginei que aquilo levaria mais tempo para acontecer. Este início me deu algumas esperanças de que o livro poderia ser eletrizante e mais uma vez me segurei ao máximo para não aumentar as expectativas. Mas o que aconteceu depois, foi que a história se tornou entediante, arrastando-se assim até o final.
Não que o livro não tenha muitas batalhas, aliás, ele é cheio delas. No mar e em terra. Mas aquelas que importam de verdade, que me deixou apreensiva e com uma pontada de medo, com exceção do início, não aconteceram. Um ponto inegável é que Ryan descreve cenas de guerra com muita qualidade.
Senti falta da evolução dos personagens. Eles começaram e terminaram da mesma forma, e em alguns casos tiveram um certo declínio. Como Reva, por exemplo, que era uma personagem que eu gostava tanto e acabou decaindo. Ela protagonizou cenas incríveis, mas o autor forçou um pouco a barra com ela, que quis construir uma personagem forte e invencível, mas não fiquei convencida disso. Aliás, algumas decisões que ela tomou me irritaram bastante. Achei o seu arco bem repetitivo.
Um fato sobre os personagens secundários deste livro: Socorro! Quem é quem? São tantos, com nomes parecidos, personagens que confundo um com o outro. Faltou um pouco o autor caracterizá-los melhor? Colocar um leve background sobre eles quando apareciam, para que eu pudesse tentar lembrar quem eram? Não sei. Só sei que me senti extremamente confusa com relação a isso, e sinceramente, não me importei com nenhum deles.
Os pontos de vista de Frentis foram os mais interessantes, os que realmente me fizeram ansiar para chegar logo. Depois de tudo o que aconteceu com ele em O Senhor da Torre, Frentis ainda possui uma espécie de ligação bizarra com a Elverah, podendo nos dar uma visão dos planos dela e assim uma diretriz à história. Os acontecimentos envoltos nos POVs de Frentis foram os melhores, porém o personagem já foi construído e não sobrou espaço para evolução, o que fez dele um tanto previsível.
Não compreendi muito bem alguns pontos relacionados à Rainha Lyrna. Houve tanto foreshadowing sobre a Rainha do Fogo, que eu esperava vê-la com sangue nos olhos, beirando a loucura por conta do que aconteceu com ela e ao seu reino – o que seria extremamente compreensível. Por outro lado, o que vi foi uma rainha muito segura, determinada e mais sã do que quase todo seu exército. Apesar dos seus planos e estratagemas arriscados com relação a guerra, confesso que eu a seguiria sem nem pensar duas vezes.
Durante toda a história deste livro, senti Vaelin nublado, sem de fato reconhecê-lo de verdade. Apagado, essa é a melhor palavra para descrevê-lo. Acho que Anthony Ryan criou um personagem incrível, que se tornou um dos meus personagens favoritos, e não soube aproveitá-lo. Eu fiquei esperando o seu grande momento. Esperando, esperando e esperando… até que o livro acabou, e faltou algo. O grande sucesso do primeiro livro se dá a acompanharmos a jornada de Vaelin e ele ser um personagem muito cativante. Me esforcei bastante para aceitar a grande mudança do segundo livro, quando o autor decidiu inserir outros pontos de vista, para expandir a sua história. Porém, foi em A Rainha do Fogo que sua decisão caiu pelas mãos, e a história deixou de ser tão prazerosa, com um capítulo mais maçante que o outro.
“O Aliado está lá, mas sempre como uma sombra, uma catástrofe inexplicada ou um assassinato cometido por ordem de um espírito sombrio e vingativo. Separar verdade de mito costuma ser uma tarefa infrutífera.”
Sobre o mistério do Aliado e seus seguidores, incluindo Elverah – que na minha opinião foi mais assustadora de que qualquer outro personagem – fomos conduzidos à construção dos inimigos e sua natureza abominável. A explicação com relação a eles foi satisfatórias, embora no final eles tenham sido um pouco descaracterizados, deixando de ser tão temíveis assim.
Ao longo do livro, a história foi perdendo as suas características mais especiais e marcantes, que tanto me fez apreciá-la. Como por exemplo, como foi feito nos dois primeiros livros, a ideia de intercalar os capítulos do passado com o presente através do relado de Verniers. Isso fazia um certo suspende com como a história se desenrolou até chegar naquele ponto, e isto também não estava presente aqui.
Foi um livro com a qual me importei com pouquíssimas coisas. Na verdade eu queria que ele acabasse logo, talvez esperando por um final que elevasse a minha opinião sobre o livro, ou talvez porque realmente foi chato na maioria dos capítulos.
Em suma, faltou emoção, ritmo, clímax e plot twists, características presentes nos livros anteriores. E o principal, faltou muito Vaelin raíz.
Apesar de só ter reclamado, não foi de todo decepcionante, porque nem isso o livro conseguiu despertar em mim. Foi ok. Mas que não me convenceu. E por deixar algumas coisas em aberto e sentir tantas outras faltando, me faz pensar se a história de Vaelin realmente acabou.
O autor expandiu demais o seu mundo e se perdeu ao ter que concluir toda a história em um único volume, deixando de dar o devido destaque aos seus personagens, que eram o melhor de sua criação.
No mais, A Canção do Sangue é um dos melhores livros de fantasia que já li em toda minha vida. O Senhor da Torre não fica muito atrás, é incrivelmente bom. Infelizmente o último livro não conseguiu manter o padrão e se saiu muito abaixo, porém, pela qualidade dos dois primeiros livros, digo que essa trilogia vale muito a pena e é altamente recomendada a todos os fãs de fantasia épica.
Título: A Rainha do Fogo – A Sombra do Corvo #3
Autor: Anthony Ryan
Ano: 2017
Editora: Leya
Páginas: 752
SINOPSE: Depois de escapar da morte por um fio, a Rainha Lyrna está determinada a expulsar os invasores volarianos e retomar o controle do Reino Unificado. Mas, para isso, ela precisará fazer mais do que reunir seguidores leais: deverá se juntar às forças que, no passado, achou repugnantes – pessoas com os estranhos e variados dons das Trevas – e levar a guerra para o território inimigo. A vitória está nas mãos de Vaelin Al Sorna, agora nomeado Senhor da Batalha. Seu caminho, no entanto, não será nada fácil, pois o Império Volariano possui uma nova arma: o misterioso Aliado, capaz de estender a vida de seus servos. Como Vaelin poderá matar o que não pode ser morto, agora que sua canção do sangue, o poder que o tornou um feroz guerreiro, ficou subitamente emudecida?
Lidos de Setembro
[…] • A Rainha do Fogo (A Sombra do Corvo #3) | Anthony Ryan | 3,5⭐ Um desfecho bastante morno para a trilogia, que não conseguiu manter o padrão de qualidade e as características marcantes dos dois primeiros livros. Resenha · A Rainha do Fogo […]