Resenha | Santuário dos Ventos – George R. R. Martin e Lisa Tuttle
“Porque depois que você experimenta voar,
Passa a andar pela terra com os olhos postos no céu;
Pois terá estado lá,
E sentirá vontade de voltar”.
– Leonardo da Vinci
Santuário dos Ventos, escrito por George R. R. Martin e Lisa Tuttle, é um dos lançamentos recentes da editora Leya. Quando se trata de George R. R. Martin, um dos responsáveis por eu gostar tanto de livros de fantasia, qualquer título que leva o seu nome naturalmente me chama atenção.
O Santuário dos Ventos é um mundo que apresenta um compilado de ilhas pequenas e espalhadas, com uma atmosfera tempestuosa. Por conta da distância que cada ilha tem entre si, do clima de ventos fortes e criaturas monstruosas marítimas, voar é o principal recurso para manter a comunicação entre a população. As asas de um voador são feitas de metal, construídas a partir dos destroços da espaçonave responsável por toda a vida no Santuário dos Ventos.
Com o tempo, os voadores começaram a ganhar fama e prestígio. Eles são apresentados como uma sociedade de elite e não respondem aos governantes. Grande parte da população se anima ao vislumbrar um deles planando sobre as praias, com suas asas metálicas reluzindo sob a luz do sol. Era assim que Maris, uma garotinha, se sentia sempre que via um voador deslizando diante dos seus olhos. A ansiedade e a empolgação tomavam conta dela, e tudo o que ela mais desejava era poder sentir a sensação de voar. De ser uma voadora.
Mas isso não seria possível. Entre Maris e o seu sonho de voar, havia também a antiga lei dos voadores, declarando que o direito de voar é hereditário; portanto as asas são passadas de pai para filho. A esperança de Maris se acende quando um voador afetuoso decide adotá-la, e com isso ensiná-la a voar. A garotinha decide agarrar a oportunidade e cresce ganhando os céus, conhecendo lugares diferentes e deslizando por correntes fortes de ventos, mas com a realidade amarga de que em algum momento, ela terá que passar as suas asas para Coll, o pequeno e legítimo filho de seu pai de criação.
Este é o conflito que incendeia e dá início à trama de Santuário dos Ventos. De um lado, temos a tradição, e do outro, um espírito rebelde, ávido por mudanças. A partir do momento que Coll não sente a mínima simpatia com a ideia de voar, Maris não pretende desistir fácil de suas asas. Ela decide confrontar a sociedade e suas leis, com a proposta de que voadores sejam escolhidos por mérito, não por herança.
Ao me deparar com este plot, automaticamente trilhei a jornada de Maris dentro da minha cabeça, e imaginei que todo o livro dependeria de sua busca. De certa forma, posso dizer que não estava completamente errada, mas o livro tem uma proposta diferente e apresenta rumos inesperados. Ele é dividido em três partes, todas com seus arcos fechados, mas que se conectam. A frente de cada arco, temos Maris como a personagem de destaque, e com ela os pontos de mudanças que prometem transformar para sempre o Santuário dos Ventos. O ponto alto da trama é o cenário político e social, e sua maior questão não é só apontar a necessidade da mudança, mas também as consequências de adaptação que vem com ela.
“Pelo tempo em que essa canção for cantada eles saberão de você, a menina que queria tanto suas asas que acabou mudando o mundo”.
O desenvolvimento de Maris no decorrer da história é muito interessante. Ela é uma personagem com sonhos e força para correr atrás deles, mesmo que isso signifique abalar toda a sociedade. Você é capaz de sentir o que voar representa para ela, porque a cada voo ela se entrega aos ventos de coração. Acompanhamos a sua trajetória desde criança, vemos sua evolução e o que as mudanças provocadas pelo tempo faz com a sua personalidade quando ela amadurece. Ela passa de uma jovem sonhadora, rebelde e ao mesmo tempo inocente, para uma mulher forte, mais experiente e que sabe exatamente como agir. Com isso, também passamos a acreditar com muita facilidade em tudo o que sua imagem de revolução representa para as pessoas.
“Por um segundo, ou menos que isso, ela caiu, mas depois os ventos a pegaram, como se dedilhassem suas asas, fazendo-a subir, transformando seu mergulho num voo, um choque que a deixou ruborizada e sem fôlego e com a pele formigando. Naquele momento, o pequeno intervalo de menos de um segundo fez tudo aquilo valer a pena. Era melhor e mais emocionante do que qualquer sensação que Maris tivesse experimentado, melhor que o amor, melhor que tudo”.
Alguns outros personagens cativantes aparecem no decorrer da história. Um deles é Val Uma-Asa, o tipo de personagem que eu mais gosto, complexo e difícil de compreender. Em diversos momentos eu me vi dividida entre gostar ou odiar o personagem, enquanto quebrava a cabeça para entender as suas ações e motivações. Por consequência disso, e também por ser o plot mais intrigante e inesperado, a parte dois é a minha favorita do livro.
O Santuário dos Ventos não é uma história de fantasia propriamente dita, ela também apresenta muitos elementos de ficção científica dentro da sua construção de mundo. Desde o início da leitura, me senti muito curiosa sobre como o mundo realmente funcionava, e ansiei por descobrir mais. Os elementos históricos são apresentados aos poucos, apenas para compor o plano de fundo do enredo. Então me vi pescando as informações que eram dispostas de forma sutil, em alguma canção, ou durante uma conversa. Mas não foi o suficiente para mim, eu precisava mais desse mundo.
O epílogo é ótimo, tranquilo e ao mesmo tempo agridoce, como o final de uma incrível jornada deve ser. Você não quer se despedir dos personagens, nem daquele universo, então finaliza o livro com aquele gostinho de quero mais. Recomendo não só para fãs de Gerorge R. R. Martin, mas também a leitores que apreciam os gêneros citados e uma boa jornada atemporal. Ótimo leitura! 😉
Exemplar cedido em parceria com a editora.
Título: Santuário dos Ventos
Autores: George R. R. Martin e Lisa Tuttle
Tradução: Luis Reyes Gil
Editora: Leya
Ano: 2018
Páginas: 416
Skoob | Goodreads | Amazon
SINOPSE: Após um desastre espacial, os tripulantes de uma nave intergaláctica passam a habitar uma região que chamam de Santuário dos Ventos, um mundo de pequenas ilhas, de clima difícil e mares infestados por monstros. Composta de inúmeros arquipélagos, a comunicação entre os povos era praticamente impossível – até a descoberta de que, devido à baixa gravidade e à sua densa atmosfera, os humanos poderiam voar pelos mares com a ajuda de asas de metal.
Não por acaso, ninguém tem mais prestígio que os voadores, responsáveis por levar notícias para os mais diversos pontos do Santuário. Essas figuras deslumbrantes que cruzam os oceanos traiçoeiros, enfrentando ventos revoltosos e tempestades súbitas, formam também uma espécie de elite privilegiada, pois suas asas só podem ser passadas de forma hereditária.
É nesse cenário que a jovem Maris é criada por Russ, um voador, e tudo o que ela mais deseja é voar pelas correntes acima do Santuário dos Ventos. No entanto, a tradição afirma que as asas de Russ só podem ser passadas para seu filho legítimo. E, para os voadores, permitir que qualquer um se junte à sua sociedade é uma ideia que beira a heresia.
Inconformada, Maris recorrerá a tudo que estiver a seu alcance para conquistar as preciosas asas – abalando a sociedade em que vive e gerando uma série de novas questões morais entre os voadores e os “confinados à terra”. Afinal: quem merece ganhar os céus do Santuário dos Ventos? E até que ponto a benção se torna também uma maldição?
Jéssica Rabelo
Oii Gisele.
Eu sou fã de fantasia e amo uma boa ficção científica. Gosto bastante da ideia do livro a premissa é muito boa e sempre que tem elementos em grande quantidade fico curiosa.
Quero muito ler uma grande obra. Tanto por ser fã de Martin quanto por ser um livro com dois gêneros dos quais amo.
Beijos.
fabiely
Oii, que resenha linda! Amo quando as fantasias nos apresentam a mundos totalmente novos, e nos deixam ansiando para descobrir mais sobre eles. Achei que essa junção de ficção e fantasia deu um toque todo original e único ao enredo e fiquei bem curiosa para conhecê-lo.
Beeijos
Viviane Almeida
Olá Gisele, que resenha fantástica! Eu nunca tinha lido nada sobre esse livro mas, quando li a sinopse já me apaixonei por ele, uma mistura de ficção cientifica e fantasia..hehe
Faz pouco tempo que eu descobri os outros livros escritos pelo Martin mas, vou colocar esse no topo da minha lista de compras, obrigada pela indicação.
Beijos e Abraços VIVI
Resenhas da Viviane
Eloise
Oi Gisele,
Que delícia de resenha, você disse que foi se sentindo curiosa cada vez que ia se aprofundando na leitura. Eu estou totalmente curiosa e fascinada por essa história através de sua resenha. Quero para ontem. Também adoro Geroge R. R. Martin, fiquei encantada por essa trama e por essa linda edição. Fazia tempo que não adicionava um SUPER DESEJADO a minha lista, obrigada pela indicação!!! <3
ADOREEEEEII!!!
Bjokas da Elo!<3
http://cronicasdeeloise.blogspot.com/
Amor pelos Livros
Oieee, ainda não li nada desse autor, acredito que conhecerei sua obra a começar por esse livro porque me deixou super curiosa, quero saber mais sobre esse mundo também.
Amei a recomendação, e sua resenha está mara!
Viviane Oliveira
Nossa parece excelente, fiquei presa só pelos trechos que vc postou!
Parece uma leitura bem marcante 🙂 eu tb amo tio George!! hahaha Certeza que lerei esse assim que puder!!
osenhordoslivrosblog.wordpress.com