Resenha | O Senhor do Caos – Robert Jordan

O Senhor do Caos foi o maior livro que já li, mas não se assustem com as suas 1.072 páginas. Muita coisa acontece neste livro, então a leitura acaba fluindo muito bem. Quando você termina se custa a acreditar que ele tinha todo esse tamanho.

Logo que iniciei o livro, estava preocupada se conseguiria controlar as expectativas a ponto de não prejudicar a leitura, por isso até cogitei intercalá-la com outras histórias. Mas afinal não tive esse tipo de problema, porque enquanto estava lendo não consegui por nada olhar para outro livro. Há um prazer especial quando se está lendo a sua série favorita, então logo a princípio esqueci das expectativas e facilmente me deixei escorregar para dentro desse mundo que tanto gosto.

Se você não leu As Chamas do Paraíso, pule os dois próximos parágrafos, porque conterão spoilers dos livros anteriores 😀

A Torre Branca está dividida. De um lado temos Elaida com a estola da Amyrlin comandando a Torre remanescente. Do outro, em Salidar, as Aes Sedai que se rebelaram contra a atitude da vermelha permanecem sob a ocasional liderança de Sheriam, mas sem uma Amyrlin para fortalecê-las e guiá-las. Missões diplomáticas das duas partes seguem a procura de Rand, com intenções duvidosas e incertas. Enquanto isso, com a ajuda de Mat, que lidera o Bando da Mão Vermelha, Rand divide suas atenções entre Caemlyn e Caerhien, esperando Elayne retornar para lhe entregar o Trono do Leão, ao mesmo tempo em que junta forças para enfrentar Sammael em Illian.

Nynaeve e Elayne permanecem em Salidar, surpreendendo a todos com os seus feitos e descobertas, mas ninguém desconfia que tudo isso provém do conhecimento de Moghedien, a abandonada que foi capturada e aprisionada por Nynaeve, com um a’dam criado por Elayne. Já em Dois Rios, após um tempo longe dos holofotes, finalmente Perrin sente a influência e os puxões fortes de ta’veren do Dragão Renascido. Ele sabe que precisa ir ao seu encontro.

Conforme a história se expande, ela ganha inúmeras vozes, por isso teremos muitos POVs presente neste livro. Cada um foi muito bem distribuído e contribuiu para equilibrar os vários enredos de uma história que se torna cada vez mais complexa.

Leia: O Mundo de A Roda do Tempo

De forma geral, pouquíssimos personagens me tiraram do sério neste episódio (já que Faile preencheu toda a cota do papel insuportável), o que acho isso incrível, porque criticar alguns deles como Mat, Egwene e Elayne já havia se tornado característico da minha parte. Não só eles, mas a maioria demonstra um bom ponto de vista e uma boa evolução. Em determinados momentos, a trama me emocionou e me fez ficar muito orgulhosa dos meus cinco bebês de Dois Rios. Eles estão crescendo, amadurecendo e assumindo posicionamentos que os destacarão perante os conflitos que se aproximam, até o temido e ao mesmo tempo esperado Tarmon Gai’don.

Ouso dizer que de todas as jornadas do herói que já tive o prazer de acompanhar, Rand representa tudo aquilo que eu espero de um personagem central. Ele assume a sua posição e consequentemente as responsabilidades que vem com ela. Não espera que os outros digam o que ele precisa fazer, não se esquiva e age de acordo com o que acha certo, usando tudo e todos para alcançar o seu objetivo, inclusive a si mesmo. Não que ele seja um personagem pronto, e nós temos aqui alguns exemplos de decisões equivocadas que ele toma; mas é um personagem que está em frequente evolução, e esta é muito interessante de acompanhar.

Depois de erguer a montanha nos ombros, a única opção era sustentá-la com firmeza: não havia como deitá-la outra vez no chão. E também não havia mais ninguém que pudesse carregá-la em seu lugar.

Egwene e Nynaeve também protagonizaram ótimos momentos e realizaram grandes ações. Egwene, desde As Chamas do Paraíso vem amadurecendo bastante, e sua jornada em especial neste livro foi uma das coisas que mais me impressionou. Já Nynaeve começa a brilhar com seus dons de curandeira, e cada vez mais me sinto animada para acompanhar a sua evolução como personagem, que está demorando sim, mas compreendo pelo seu temperamento forte. Afinal, Nynaeve e temperamento forte é quase um eufemismo.

Um ponto interessante é que neste volume nos aproximamos um pouco mais dos Abandonados e até mesmo de Shayoul Ghul. Foram capítulos interessantes, e eu me peguei gostando até mesmo dos antagonistas, de tão bem construídos que eles são. Apesar de ambiciosos, loucos e cruéis, eles são indiscutivelmente divertidos. I’m sorry.

Não posso deixar de destacar o quanto gosto da narrativa eficiente e descritiva de Robert Jordan. Entendo enquanto alguns criticam por ele “enrolar” um pouco, mas eu adoro toda a construção que ele faz em torno de uma cena antes de aprofundá-la. Você é capaz de se localizar através dessas descrições, sem que o autor precise dizer exatamente onde a história está. Fora que fica muito fácil visualizar a riqueza do seu mundo através dessa narrativa, e eu adoro muito isso.

Leia: Enredo – A Roda do Tempo

As intrigas políticas continuam fortemente presentes, tomando grande parte da trama. Por consequência disso, para alguns, pode ser que a narrativa se mostre lenta em determinados momentos. Mas não se desespere, porque mesmo que você não perceba, as tramas estão sendo constituídas fio a fio, até que tudo começa a se amarrar e fazer sentido.

E para complementar ainda mais. Que hino de final foi esse? Jordan nunca decepciona com o clímax e os seus finais, geralmente carregados de batalhas e acontecimentos épicos. Mas desta vez, ele apresenta um dos melhores finais até aqui, que se equipara facilmente com o grande desfecho de A Grande Caçada. Fiquei apreensiva, nervosa e ao mesmo tempo muito surpresa com tudo o que aconteceu. Terminei a última página arrepiada e em estado febril. Asha’man, matem! Sim, sou cruel e vou largar isto aqui rs.

Mesmo tentando apontar um pouco de tudo o que achei interessante neste sexto volume, ainda finalizo esta resenha com o sentimento de que falta muita coisa para demonstrar o quanto ele foi incrível.  Como disse a princípio, muita coisa acontece, a história se expande, toma rumos inesperados e começa nos dar alguns vislumbres de tudo o que está por vir, o quanto ela promete se tornar ainda mais épica.

O Senhor do Caos está entre os melhores livros da série entre os seis lançados aqui, e com toda certeza, é o melhor livro que li em 2018.  Simplesmente não sei mais o que fazer para recomendar essa série incrível. Leitor de fantasia, apenas leia.

“A torre imaculada se divide e se ajoelha perante o símbolo esquecido.
Os mares seguem em tormenta e nuvens de tempestade se armam incógnitas.
Além do horizonte, chamas escondidas se avolumam e serpentes se aninham em seu seio.
O que foi exaltado é rechaçado, o que foi rechaçado é elevado.
A ordem queima para abrir caminho para ele”.


O Senhor do CaosTítulo: O Senhor do Caos (A Roda do Tempo #6)
Autor: Robert Jordan
Tradução: Mariana Serpa e Rafael Miranda Rodrigues
Editora: Intrínseca
Ano: 2018
Páginas: 1.072
Skoob | Goodreads | Amazon

SINOPSE: Recuperando-se em meio às Sábias, Egwene deseja prosseguir por conta própria em seus estudos sobre o Mundo dos Sonhos, mas ainda precisa aprender uma dura lição sobre o código de honra Aiel. Em Salidar, a lealdade de Elayne e Nynaeve às dissidentes da Torre Branca as coloca em uma posição difícil: elas devem tentar proteger as Aes Sedai de si mesmas.
Mat e Perrin, por sua vez, precisam arriscar a própria vida para seguir Rand. Enquanto isso, o Dragão se divide entre governar Cairhien e Caemlyn, sem jamais encontrar refúgio das decisões difíceis e da voz de Lews Therin, que ameaça fazê-lo sucumbir à loucura.
Em O senhor do caos, as intrincadas tramas continuam a se desenrolar, e Robert Jordan demonstra maestria em resolver os conflitos dos volumes anteriores, criando, ao mesmo tempo, novos suspenses.
A ordem e as antigas instituições desmoronam para abrir caminho para o senhor do caos no novo volume de A Roda do Tempo, uma das mais extraordinárias séries já escritas.

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9 Comments

  1. Jéssica Rabelo

    Oii Gisele.
    Esse livro tem de tudo que eu gosto em uma obra e mesmo sendo gigantesco não me desanimo a ler. Política e intrigas são apenas o começo, mas a história ganhar massa a medida que evolui é com certeza meu folego favorito para realizar essa leitura. Nada me deixa mais satisfeita que encontrar histórias que crescem de modo gradativo. Achei fantástica a premissa do livro e da série. e como bem sabe, A Roda do Tempo já entrou para lista.
    Beijos.

    https://fanficcao.wordpress.com/

  2. Marco Antonio (@cotonho72)

    Olá Gisele,

    Muito bom saber que a cada livro o autor excede as nossas expectativas, não é a toa o grande sucesso que fez lá fora, eu só tinha o terceiro livro da série, agora finalmente comprei o primeiro da série e não vejo a hora de iniciar a leitura, ótima resenha….bjs.

    http://devoradordeletras.blogspot.com/

  3. Viviane Oliveira

    Leitora de fantasia, aqui!!! o/

    Eu não me assusto com a quantidade de páginas, AMO narrativas descritivas, (olha o nome do blog! hahaha acho que ninguém consegue ser mais descritivo que Tolkien) e fiquei super animada com personagens que amadurecem em toda a série, gosto muito disso, eles ficam mais reais e a gente se identifica muito mais! Adorei!

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

  4. Viviane Almeida

    Oie, estou começando a ler fantasias esse ano e até agora tenho conseguido ler livro incríveis e que me emocionaram muito! Eu já ouvi falar desse autor e da série também mas, não sabia que ela tinha tantos livros assim, nossa! Não pretendo ler ela agora, ainda estou com trauma de algumas séries/trilogias que eu li nos últimos anos e as continuações não me agradaram, mesmo assim irei adicioná-la a minha listinha, quem sabe eu mude de ideia néh?
    Sua resenha ficou muito linda e bem detalhada, gostei muito de saber que os personagens tem uma amadurecimento de um livro para o outro, isso é ótimo para o desenvolvimento da história e eu sempre fico chateada quando os personagens não mudam nunca, mesmo quando sofrem horrores….rs!

    Beijos e Abraços VIVI
    Resenhas da Viviane

  5. Jennifer

    Olá, como vai?

    Muito legal o post!

    Vou aderir à dica.

    Parabéns pelo blog! Está muito bacana! 🙂

    Abraços,

    Jennifer.

  6. Eloise

    Oi Gisele,

    Ainda não tive a oportunidade de ler essa série, mas pela sua empolgação ela parece ser ótima. A melhor coisa é quando nos deparamos com uma narrativa bem construída e envolvente, achei bacana saber que um livro com mais de mil páginas tenha sido tão fluído ao ponto que você nem precisou olhar para os lados e intercalar leituras, esse foi um ponto que me chamou atenção. Outro ponto que gostei de saber é que uma trama possui intrigas políticas, e eu adorrrrooooo. Você me convenceu a querer adquirir essas lindezas, estou bem curiosa!!!

    Linda resenha!
    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com/

  7. Jacqueline Vasconcelos

    Oi, tudo bem ?

    Nossa não conhecia, mas vou acrescentar ele a minha lista. O enredo e proposta parecem bastante fluidos e atrativos, amei os quotes ressaltados, só aumenta a vontade de ler a obra que parece ter tudo para dar certo e ser arrasadora. Gostei de ver os 6 livros na foto, assim podemos ter uma noção e ver o produto, parece ser uma ótima dica de leitura.

  8. Pretenses O blog (@blogpretenses)

    Essa é uma daquelas séries que mesmo não querendo ler, você não esquece dela de jeito nenhum. Em especial por essas impressões lindas que quem leu é capaz de escrever. A premissa é linda, mas começar uma série com mais de 5 volumes é complicado, mas não impossível! Vou começar a ficar de olho nas promoções pra ver se garanto o primeiro volume, quem sabe ele não me ganha e assim começo a leitura da série. Beijos ~Elis (blog Pretenses)

  9. Vampira

    Eu Amoooo a roda do tempo estou lendo o senhor do caos. Quando estava no começo não estava entendendo quase mas depois que as coisas foram se desenvolvendo o livro acabou me cativando. Eu adoro o humor Aiel mesmo que as vezes eu fico boiando igual a Rand….. Amei a resenha 😘

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