Crônicas de Espada e Feitiçaria, Gardner Dozois

Quando me deparei com o lançamento de Crônicas de Espada e Feitiçaria, o time de autores que compõem a antologia me encheu os olhos, especialmente os que eu já sou bastante fã, como Robin Hobb, Scott Lynch e George R. R. Martin. Mas também a promessa de conhecer a escrita de autores renomados que ainda não vieram para o Brasil também garantiu parte da empolgação.

Em contrapartida, não sou a maior fã de contos. Muito pelo contrário, quem me acompanha sabe que eu gosto mesmo é de calhamaços e de séries longas, que apresentam uma trama complexa, com mundo e personagens bem desenvolvidos. O que me motivou de verdade a encarar este livro, além do time de autores, foi saber que eu iria me aventurar dentro do gênero que considero minha casa.

Crônicas de Espada e Feitiçaria é uma antologia de contos épicos, escritos por diversos autores da literatura fantástica. Gardner Dozois, que infelizmente faleceu em maio deste ano, é o editor do livro e apresenta uma introdução pra lá de cativante. Ele compartilha um pouco com o leitor todo o seu amor por esse estilo de narrativa conhecido como “espada e feitiçaria”, que são contos fantásticos que aos poucos foram perdendo sua força com a chegada dos grandes romances de fantasia.

O livro conta com 16 contos de autores diferentes. O time é composto por K. J Parker, Robin Hobb, Ken Liu, Matthew Hughes, Kate Elliot, Walter Jon Williams, Daniel Abraham, C. J. Cherryh, Garth Nix, Ellen Kushner, Scott Lynch, Rich Larson, Elizabeth Bear, Lavie Tidhar, Cecelia Holland e George R. R. Martin. Antes de iniciar cada história, há uma breve apresentação sobre o autor e a trama que está por vir. Selecionei os 4 contos que mais gostei para falar um pouco sobre, mas já adianto que não houve aquela história excepcional, capaz de me empolgar pra valer. O que houve foram história muito promissoras, mas que pecaram no seu desenvolvimento (eu queria mais páginas sobre elas!).

A Espada do Pai, Robin Hobb

Como li O Aprendiz de Assassino há pouco tempo, o conto de Robin Hobb foi um presente, já que ela aborda uma das coisas que mais me interessa no seu universo, os Forjados. Pude acompanhar e entender um pouco mais todo o caos que os reféns apresentam quando são devolvidos pelos bárbaros dos Navios Vermelhos, e isso só serviu para me deixar ainda mais ansiosa para dar continuidade à Saga do Assassino. O conto funcionou muito bem como complemento e também como uma história à parte, sob o olhar de uma jovem que vive em um dos vilarejos atacados. A maior surpresa é que também contamos com uma breve aparição de Fitz e assim podemos analisa-lo sob outro ponto de vista que não seja o dele mesmo, o que não acontece na saga principal.

A Garota Oculta, Ken Liu

O conto de Ken Liu me empolgou desde o início, porque adoro tudo o que remete à cultura oriental. Em sua história, a filha de um general é raptada de forma misteriosa por uma monja, que a leva para longe a fim de transformá-la numa assassina. No seu último teste, após anos de treinamento, a jovem passa a se questionar se este realmente é o destino que deseja seguir, afinal sua vida foi roubada. A narrativa de Ken Liu me cativou bastante, a forma sutil com que ele descreve seu diferente sistema de magia me deixou curiosa para descobrir mais sobre esse universo e ler mais coisas do autor.

A Espada Tyraste, Cecelia Holland

Eu não estava dando muita coisa para essa história, que começou de forma confusa. O conto de Cecelia Holland foi me ganhando aos poucos e surpreendeu no final. Num cenário nórdico, acompanhamos um rei ambicioso e trapaceiro que possui uma espada enigmática, e também um jovem sedento por vingança. Com momentos intensos de ação e tensão, essa história me fez querer pegar o livro mais próximo de Bernard Cornwell e devorar.

Os Filhos do Dragão, George R. R. Martin

Não deverá ser surpresa para ninguém que o meu conto favorito foi o de George R. R. Martin. Eu não fazia ideia do quando estava com saudades do universo das Crônicas de Gelo e Fogo. Em Os Filhos do Dragão, acompanhamos os filhos de Aegon, o Conquistador, um deles sendo o famoso Maegor, o Cruel. Me senti sentada ao redor de uma fogueira, ou até mesmo em uma taberna, ouvindo um contador de histórias narrar com mais profundidade uma das histórias mais populares desse mundo, mas que eu ainda não conhecia os detalhes. Neste conto há o melhor de Gerorge R. R. Martin, intrigas políticas, brigas por poder e muito fogo e sangue.

A decepção ficou por conta de A Fumaça de Ouro e Glória, de Scott Lynch. Eu amo a série dos Nobres Vigaristas, por isso esperava mais do seu conto. Me empolguei muito quando percebi que ele contaria uma história sobre ladrões, mas ela não faz jus à sua série mais popular. Esperava rir, me encantar e sofrer um pouquinho com os seus personagens, e isso não aconteceu. Não foi o conto que menos gostei, mas a decepção foi porque houve muito pouco do Scott Lynch que eu conheço.

O livro como um todo oferece um misto de experiências e sensações diferentes, por conta do desenvolvimento das histórias através de culturas diversas. No final do livro, confesso que os meus sentimentos foram um tanto conflitantes. Foi extremamente interessante descobrir um pouquinho da escrita de autores novos e uma parcela de mundos que eu ainda não conhecia, enquanto que também pude enriquecer o meu conhecimento naqueles que eu já conheço e gosto muito. Essa foi a parte mais marcante da experiência e acredito que a ideia seja exatamente essa. Porém, a minha resistência com relação a contos permanece. Alguns deles apresentaram um desenvolvimento raso e um desfecho apenas satisfatório, enquanto eu esperava por mais.

Acredito que Crônicas de Espada e Feitiçaria funciona muito bem como um aperitivo, para você conhecer a escrita e o universo de novos autores, e se interessar continuar sua busca por outras obras deles. Recomendo este livro para você que gosta de intercalar leituras com histórias mais curtas – afinal dá para ler os contos aos poucos – e também a quem deseja conhecer um pouco sobre autores muito populares lá fora, que ainda não tiveram sua oportunidade aqui. Para fãs de livros de fantasia, é uma leitura que vale a pena! 😉

Exemplar cedido em parceria com a editora.


Crônicas de espada e feitiçariaTítulo: Crônicas de Espada e Feitiçaria
Editor: Gardner Dozois
Autores: K. J Parker, Robin Hobb, Ken Liu, Matthew Hughes, Kate Elliot, Walter Jon Williams, Daniel Abraham, C. J. Cherryh, Garth Nix, Ellen Kushner, Scott Lynch, Rich Larson, Elizabeth Bear, Lavie Tidhar, Cecelia Holland, George R. R. Martin.
Tradução: Alexandre Martins, Maria Helena Rouanet, Paulo Afonso.
Editora: Leya
Ano: 2018
Páginas: 512
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SINOPSE: O gênero de fantasia produziu muitos dos heróis que consideramos inesquecíveis. Personagens clássicos que fizeram do gênero de “espada e feitiçaria” uma sensação, uma pedra fundamental na ficção fantástica – engendrando seus próprios contos de magia e coragem em aventuras imperdíveis.
Gardner Dozois preparou uma seleção e tanto em Crônicas de espada e feitiçaria. Nas mãos de Robin Hobb, Walter Jon Williams, Lavie Tidhar, Garth Nix e George R.R. Martin, vamos rever os personagens FitzCavalaria, da “Saga do Assassino”; o aventureiro Quillifer; o “pistoleiro viciado” Gorel de Goliris; Sir Hereward e Mister Fitz; e, em Westeros, muito antes dos eventos passados em A guerra dos tronos, conheceremos a história de uma rivalidade entre irmãos da Casa Targaryen que teve feitos trágicos e desastrosos.
Esses e outros contos que compõem o volume prestam uma homenagem ao gênero tido como precursor da fantasia épica. Um mergulho profundo e divertido em histórias que, a cada dia, conquistam mais e mais leitores por todo o mundo.

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