Resenha | A Quinta Estação, N. K. Jemisin

N. K. Jemisin foi a ganhadora do Hugo Awards três vezes consecutivas pela série A Terra Partida, com os livros A Quinta Estação, O Portão do Obelisco e The Stone Sky (título ainda não traduzido no Brasil) respectivamente. A premissa da série apresenta elementos de fantasia e também de ficção científica, meus dois gêneros favoritos. Tudo isso para dizer a vocês que iniciei essa leitura sem saber muito o que esperar dela, ao mesmo tempo que nutri todas as expectativas possíveis.

É dessa forma, também confusa, que a história se inicia. A Quinta Estação não é o tipo de livro que te dá as informações de mão beijada, você cai de paraquedas no meio da história. E não é em qualquer momento dela, nós iniciamos essa jornada em meio a vários eventos cataclísmicos, especificamente falando, no fim do mundo.

De um lado presenciamos uma mulher encontrando o filho brutalmente assassinado pelo próprio marido. Do outro, um homem insano destrói a maior cidade da Quietude, palco da nossa história. E em meio a tudo isso, diversas catástrofes acontecem e dão início à quinta estação.

A Quietude é uma terra que está acostumada com desastres naturais. Por esse motivo tudo é muito inconstante e as pessoas tiveram que encontrar uma forma de lidar com isso. Entretanto, não há como lidar com a quinta estação, que chega de tempos em tempos de forma devastadora e destrói o mundo.

“Inverno, Primavera, Verão, Outono; a Morte é a quinta e ocupa o trono”.

Arte por Jan Sidoryk

Após esse início calamitoso, nós começamos a acompanhar a história sob o ponto de vista de três personagens femininas. Essun, a mãe que se depara com o filho morto e decide ir atrás do marido em busca de vingança, e também com a esperança de que ele não tenha matado sua filha mais velha. Damaya, uma criança que está sendo levada ao Fulcro após descobrirem sua orogenia. E enfim, Syenite, uma mulher também orogene, que parte em uma jornada ao lado de um homem poderoso. Com exceção de Essun, não se sabe em que período da história as outras personagens estão presentes ou qual a participação delas no momento em que o livro começa.

O sistema de magia foi apresentado com muito brilhantismo. Também de forma original, a autora nos apresenta aos orogenes, seres que são capazes de manipular formas de energia termal e cinética para lidar com eventos sísmicos. Por mais que enxerguemos esses seres de forma positiva, porque eles são capazes de controlar aquilo que tanto assola a terra, não é dessa forma que as pessoas dessa história os enxergam.

A verdade é que os orogenes, por vezes chamados de rogga (um apelido pejorativo) são vistos com bastante preconceito por serem extremamente poderosos. Da mesma forma que eles podem salvar a terra, eles têm poder suficiente para destruí-la também. O Fulcro é o órgão que reúne os orogenes e o único local onde eles podem praticar e compreender seus poderes de forma legal.

“Talvez você ache errado eu falar tanto dos horrores, da dor, mas ela é o que nos molda, no fim das contas. Somos criaturas nascidas do calor e da pressão e do movimento cansativo e incessante. Estar quieto é… não estar vivo”.

Não há como falar dessa história sem enaltecer suas particularidades. Depois de ler tantos livros de fantasia, com as mais diversas criações, fiquei imensamente feliz de me ver imersa a um cenário totalmente novo, diferente de tudo que já vi.

A escrita de N. K. Jemisin a princípio pode causar certa estranheza, principalmente em determinados momentos quando ela utiliza a narrativa em segunda pessoa. Porém, não é algo para se preocupar. Não demorei para me acostumar com este estilo, pelo contrário, achei muito interessante a forma com que a narrativa gerou empatia e me fez enxergar as situações sob a perspectiva da personagem com muita naturalidade.

Diante de uma porção de acontecimentos chocantes, você inicia a leitura devorando página por página querendo saber o porquê de tudo aquilo estar acontecendo. Por isso, o fato de a escrita ser bastante descritiva e os capítulos longos não influenciam muito no ritmo da leitura. Eu mesma li a primeira metade do livro em apenas dois dias. A escrita é atrativa e possui um tom sutil de sarcasmo que faz dela muito gostosa.

As coisas começam a tomar forma através de inúmeras reviravoltas, daquelas capazes de te fazer gritar de empolgação. Somente por meio da contextualização do enredo e com o passar das páginas que as histórias começam a se entrelaçar e fazerem sentido. Quando você termina a leitura do livro e volta para reler o início, a sensação é maravilhosa, porque tudo faz sentido agora.

“O Mundo é o que é. A menos que você o destrua e comece tudo de novo, é impossível modificá-lo”. 

Ao terminar A Quinta Estação, além do sentimento de gratidão à autora, por nos presentear com uma história tão diferente e ao mesmo tempo incrível, também me vi desejando mais obras que tenham a ousadia de trazer para os gêneros de fantasia e ficção científica um viés mais representativo, que fala com as minorias e dá o protagonismo a elas. N. K. Jemisin inseriu pautas extremamente significativas sobre representatividade, racismo e opressão.

Garanto a você, fã desses dois gêneros, que A Quinta Estação não irá te decepcionar, por mais expectativas que você crie. Além de se deparar com algo novo, a história também irá te surpreender bastante. Com absoluta certeza, o livro irá figurar entre as minhas melhores leituras de 2018, e posso afirmar que ele merece todo o reconhecimento e os prêmios que recebeu. Dê uma chance a essa história. <3


A Quinta EstaçãoTítulo: A Quinta Estação
Autora: N. K. Jemisin
Tradução: Aline Storto Pereira
Editora: Morro Branco
Ano: 2017
Páginas: 560
Skoob | Goodreads | Amazon

SINOPSE: Vencedor do Hugo Awards. É assim que o mundo termina. Pela última vez. Três coisas terríveis acontecem em um único dia: Essun volta para casa e descobre que seu marido assassinou brutalmente o próprio filho e sequestrou sua filha. Sanze, o poderoso império cujas inovações têm sido o fundamento da civilização por mais de mil anos, colapsa frente à destruição de sua maior cidade pelas mãos de um homem louco e vingativo. E, no coração do único continente, uma grande fenda vermelha foi aberta e expele cinzas capazes de escurecer o céu e apagar o sol por anos. Ou séculos. Mas esta é a Quietude, lugar há muito acostumado à catástrofe, onde os orogenes – aqueles que empunham o poder da terra como uma arma – são mais temidos do que a longa e fria noite. E onde não há compaixão. 

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5 Comments

  1. Isabela

    Olá! Ah, tenho muita vontade de ler esse livro! Até sugeri a leitura dele para o Leia Mulheres aqui da cidade, porque ele junta dois gêneros favoritos meus e achei incrível um livro desses escrito por mulher ter a repercussão que o livro teve, ganhando vários prêmios etc. Preciso conhecer e enaltecer essa belezura! Adorei o destaque que você deu na resenha sobre as minorias e como isso é abordado na escrita dela, me deixou ainda com mais vontade de conhecer!

    Beijos,
    Isa
    taglibraryisa.blogspot.com

  2. Jessica Rabelo

    Oi Gisele.
    Você sabe que sou uma apaixonada por fantasias e me apresenta essa história kkkk Meu Deus, eu preciso. Sou apaixonada por demais por fantasias que sejam bem exploradas e que tenham suas particularidades como você mesma falou.
    Adorei.
    Beijos.

  3. Cecília Justen de Souza

    Ei! Tudo bem?

    Não sou fã do gênero, mas comecei a me interessar pela obra por causa da autora e suas premiações. Quando você ainda destacou as particularidades e as inovações da história eu comecei a me empolgar a embarcar no livro. Nunca li nada em segunda pessoa, penso que deve ser estranho, mas gostaria de ter a oportunidade do contato 🙂

    Beijos!

  4. Marco Antonio

    Olá Gisele,

    Eu adorei esse livro e com certeza é um dos melhores livros que eu li, concordo com a sua resenha, vai surpreender a todos que lerem, quero muito ler o segundo….bjs.

    https://devoradordeletras.blogspot.com

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