Livro x Filme | A Forma da Água
“As criaturas mais inteligentes são as que geralmente fazem menos sons”.
O interesse para ler A Forma da Água surgiu logo quando soube que o livro não era apenas uma novelização do filme, mas que ambos foram criados simultaneamente e que poderiam apresentar diferenças entre si. Depois disso, foi difícil esperar o lançamento do livro e me segurar para não conferir a história do cinema, principalmente depois que ela levou o principal prêmio na noite do Oscar. É quase uma regra entre a maioria dos leitores sempre conferir o livro antes do filme, e tenho certeza que tomei a atitude certa.
P R E M I S S A
Richard Strickland é resignado para encontrar um ser misterioso conhecido como Deus Brânquia, que provavelmente vive em algum lugar da Amazônia. Encontrar a criatura oferece aos Estados Unidos uma oportunidade para se sobressair perante o seu inimigo e aumentar a potência militar do país durante a Guerra Fria. Após um longo período na Amazônia, Strickland finalmente atinge o seu objetivo; ele captura o Deus Brânquia e o transporta para os Estados Unidos, levando também consigo as consequências mentais de um período perturbado e selvagem na floresta.
Occam, o centro de pesquisa para onde a criatura é levada, também é o local de trabalho de Elisa Esposito, uma faxineira muda que sente algo despertar dentro de si quando conhece o homem-peixe. A partir daí, acompanhamos as artimanhas de Strickland lidando com a criatura de forma desumana e severa, descontando nele todas as suas frustrações. Enquanto isso, Elisa tenta suportar a angústia de presenciar as maldades direcionadas ao seu mais novo amigo, que é capaz de fazê-la se sentir bem, como jamais se sentiu antes.
L I V R O
A narrativa de A Forma da Água oferece ao leitor um mergulho em águas profundas e desconhecidas, revelando as particularidades de personagens intensos. Há vários pontos de vistas de personagens diferentes, o que para mim foi uma surpresa extremamente agradável. Você acompanha o percurso de todos se desenrolarem e se entrelaçarem em algum momento da trama, e também é capaz de compreender as motivações de cada um, até mesmo do antagonista transtornado.
Os relacionamentos são retratados de forma delicada e real, desde o convívio entre família, até as ligações de amizade. Esta, aliás, demonstra com muita beleza o quão importante é você não se sentir só e ter por perto com quem contar. A relação entre Elisa e o homem-peixe acontece de forma natural, e logo você nota a empatia que um sente pelo outro. O sentimento genuíno que flui entre eles é crível e bonito.
“Muito tempo atrás, Elisa se permitia fantasiar sobre romances no ambiente de trabalho, sobre encontrar o homem que dançava pela escuridão de seus sonhos. Era o delírio de uma garotinha boba. É isto o que acontece quando se é uma servente, ou qualquer cargo do tipo: você passa despercebida, como um peixe embaixo d’água”.
E mais além do que isso, a história apresenta um cenário real dos anos 60, época em que ocorria a Guerra Fria e movimentos civis contra o racismo. O contexto político está presente em diversas ocasiões da trama, oferecendo circunstâncias carregadas de ironia.
A história apresenta momentos de mistério, tensão e um toque magistral como se estivéssemos lendo a um conto de fadas. A narrativa detalhista, subjetiva e poética foi uma das características mais inesperadas e o principal motivo de ter gostado tanto do livro.
F I L M E
O filme tem ótimas atuações, um cenário fiel, fotografia impecável e uma trilha sonora muito bonita. Mas em termos de história, ela apresenta apenas uma pequena fração do que realmente é. Através do livro você enxerga melhor cada personagem e compreende suas intenções. No filme, você se sente distante de alguns deles e os vê apenas como mocinho e vilão. Aliás, Richard Strickland, o antagonista da história, não recebe a atenção que merece e não possui exploração no seu campo emocional; ele aparenta ser um sádico calculista apenas porque sim.
Se você ler primeiro o livro, quando for conferir o filme sentirá que falta algo – os pontos de vistas de personagens secundários, detalhes que parecem fundamentais. Lainie, a esposa de Strickland, foi uma das minhas personagens favoritas do livro, e fiquei muito triste ao perceber que ela não teria espaço no filme. Não imagino como poderia ser minha experiência com o filme se não tivesse lido o livro, mas a verdade é que a história deste último apresenta a imensidão que a trama merece.
Porém, como também compreendo que levar para o cinema uma história tão profunda e rica em detalhes é extremamente complicado, acredito que Guillermo del Toro acertou e deu o seu melhor para apresentar a trama central de forma sublime. O principal aspecto que gostei na obra foram os efeitos especiais; o homem-peixe é incrivelmente retratado, do jeitinho que imaginei – e olha que é extremamente difícil satisfazer a imaginação de um leitor. Sem sombras de dúvidas, foi uma ótima experiência apreciar uma história que gostei tanto.
“Ela o abraça, ele a abraça, os dois se abraçam, e tudo é escuridão, tudo é luz, tudo é feio, tudo é lindo, tudo é dor, tudo é pesar, tudo é nunca, tudo é eterno”.
Recomendo tanto filme quando livro – este, com muito mais clamor – para quem gosta de tramas bem contadas e amarradas, e claro, também para quem aprecia um bom romance. A Forma da Água oferece a oportunidade de você mergulhar com intensidade dentro de uma história bela e singular, capaz de emocionar e te fazer sonhar.
Exemplar cedido em parceria com a editora.
SINOPSE: A história de Guillermo del Toro que deu origem ao filme vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza, recordista de indicações ao Globo de Ouro e um dos mais cotados na corrida do Oscar 2018.
Richard Strickland é um oficial do governo dos Estados Unidos enviado à Amazônia para capturar um ser mítico e misterioso cujos poderes inimagináveis seriam utilizados para aumentar a potência militar do país, em plena Guerra Fria. Dezessete meses depois, o homem enfim retorna à pátria, levando consigo o deus Brânquia, o deus de guelras, um homem-peixe que representa para Strickland a selvageria, a insipidez, o calor — o homem que ele próprio se tornou, e quem detesta ser.
Para Elisa Esposito, uma das faxineiras do centro de pesquisas para o qual o deus Brânquia é levado, a criatura representa a esperança, a salvação para sua vida sem graça cercada de silêncio e invisibilidade.
Richard e Elisa travam uma batalha tácita e perigosa. Enquanto para um o homem-peixe é só objeto a ser dissecado, subjugado e exterminado, para a outra ele é um amigo, um companheiro que a escuta quando ninguém mais o faz, alguém cuja existência deve ser preservada.
Mistura bem dosada de conto de fadas, terror e suspense, A Forma da água traz o estilo inconfundível e marcante de Guillermo del Toro, numa narrativa que se expande nas brilhantes ilustrações de James Jean e no filme homônimo, vencedor do Leão de Ouro em 2017. Uma história cinematográfica e atemporal sobre um homem e seus traumas, uma mulher e sua solidão, e o deus que muda para sempre essas duas vidas.
Cecília Justen de Souza
Ei! Tudo bem?
Uma semana para o Oscar eu faço uma “Maratona do Oscar” e assisto todos os filmes que estão concorrendo na categoria de “Melhor Filme”, logo, você já pode perceber que assisti “A Forma da Água”. Acredito que não seja um filme para todos, mas sou apaixonada na poesia de Del Toro, ou seja, fiquei encantada pela história. Fiquei super interessada no seu ponto de vista do livro, pois me pareceu tão vivo que fiquei empolgada, entretanto, não sei como seria a minha relação livro x filmes após ler o livro e isso me deixa meio… blaf haha De qualquer forma, sua postagem está muito legal, adoro essa comparação de livro e filme, é um ponto muito maneiro e acho que a gente podia desvendar mais 🙂 Parabéns!
Beijos!
http://www.as365coresdouniverso.com.br/
Jessica Rabelo
Oii Gisele. Amei seu post e devo admitir que estava bem em dúvida se contemplaria ou não essa obra duo. Eu não pretendo ver o filme (fato!), mas contudo pretendo ler o livro. Parece fantástico ver o desenrolar da coisa em favor do misto dos personagens e locais temporais da trama. Me sinto convencida a fazer leitura.
Beijos.
Blog: fanficcao.wordpress.com
Viviane Ferreira Oliveira
Gi que relato cheio de emoção, amo obras que nos transportam assim!
E esse gif do começo do post menina, arrasou!
Eu já estava afim de assistir por ter sido um filme muito bem falado, mas confesso que não assisti pq quero ler primeiro tb e como vc, acho que fiz certo 🙂
osenhordoslivrosblog.wordpress.com
Eloise
Olá Gisele,
Assisti ao filme e estou louca para ler o livro (na verdade, eu sou totalmente excluída dessa regra de ler/assistir com exceção de histórias de mistério hahaha). Imagino que o livro deve trazer mais profundidade principalmente perante as personalidades das personagens e suas vidas. O seu post já fez eu querer ir correndo para ler, porque parece ser de fato uma leitura deliciosa. <3
O filme é espetacular, amei tudo nele, infelizmente não dá pra inserir tudo em adaptações, mas como você mesmo mencionou Del Toro fez um excelente trabalho <3. Fiquei encantada pela fotografia do filme. Foi bem diferente de outros filmes que já vi, entrou para os meus favoritos.
Adorei o post e saber sua opinão!<3
Bjokas da Elo!
http://cronicasdeeloise.blogspot.com.br/
Elisabete Finco
Amei o modo inteligente e bem escrito que você fez a comparação de livro / filme sem estragar a surpresa de ambos pra quem se animar a conferir. Confesso que essa história em questão tem vários pontos que fazem com que eu não me anime com ela. Mas adoro o fato de todo livro e filme ter um publico, então sua postagem é super válida, tanto pra quem curte quanto pra quem não.
Monique
Olá, tudo bem?
Eu amei muito o filme é visualmente incrível, as cores, os personagens, tudo muito lindo.
Eu comprei o livro mas ainda não li, estou empolgada para começar.
Adorei o post