Resenha | Um Estranho Sonhador, Laini Taylor

Ler um livro da Laini Taylor é como sonhar. Sua escrita tem um aspecto sublime, que nos leva para dentro da história como se estivéssemos vivenciando um sonho. Não por acaso, desta vez temos uma história sobre um sonhador: Lazlo, o Estranho. Mas podemos definí-lo também de outras maneiras, como encantador. Lazlo não é um típico herói, nem mesmo um galã. Ele apenas se entrega naquilo que ele faz de melhor, como por exemplo, ler. Livros, pessoas e situações. Dessa forma, Lazlo, um estranho sonhador, é dotado de conhecimento e empatia, o que o faz ir muito além do que ele mesmo imagina.  

“Alguns homens nasceram para coisas grandiosas e, outros, para ajudar grandes homens a fazer coisas grandiosas”.

A história é também sobre Lamento, uma cidade mítica e poderosa, que foi separada do mundo há duzentos anos, caindo cada vez mais no esquecimento. Lazlo não é capaz de esquecê-la, porque nada mais o fascina tanto do que as histórias que conhece sobre ela. Quando era bem novo e morava num monastério, por ser órfão, Lazlo nunca irá esquecer o momento em que o verdadeiro nome da cidade escapou dos seus lábios e nunca mais retornou, porque nem sempre ela foi conhecida por Lamento. Depois, quando mais jovem, ele teve a oportunidade de trabalhar como bibliotecário júnior, e finalmente pesquisar histórias sobre uma cidade que quase ninguém mais lembrava e se importava.

O que será que é verdade ou fantasia? Realmente existem deuses em lamento? Seres superiores dotados de poder e magia. Além das histórias, Lazlo começou a sonhar com a sua versão de Lamento, uma cidade colorida, mágica e gloriosa. Mas sobretudo, muito misteriosa. No decorrer das páginas, iniciamos uma jornada junto a ele, rumo ao desconhecido. Ao desvendar os enigmas da cidade, começamos a compreender os indícios que a levaram ficar conhecida como Lamento.

Uma das melhores características de Laini Taylor é sempre apresentar os dois lados de uma moeda. Toda boa história tem mais de uma versão, mais de um olhar. Aqui ela nos dá a oportunidade de conhecer o que distanciou Lamento do restante do mundo. Mais do que isso, ela nos deixa numa situação desconfortável ao mostrar que não é simples definir o lado bom e o ruim de uma história, tudo depende de que lado você está vendo as coisas.

“Você acha que pessoas boas não podem odiar? Você acha que pessoas boas não matam? (…) Pessoas boas fazem todas as coisas que pessoas más fazem, Lazlo. Só que quando elas fazem, chamam de justiça.

Mas sem sombra de dúvidas, a melhor característica da autora é sua escrita. Que como disse no início, nos faz sentir como se estivéssemos sonhando. Ela é incrivelmente envolvente e poética, e você começa uma lamentável contagem regressiva no momento em que inicia a primeira página, temendo chegar no final.   

A história, bem como o universo e os personagens, é apresentada com calma, de forma minuciosa. São páginas e mais páginas nos apresentando a um mundo rico e personagens bem construídos, cada um com sua própria motivação. Não quero me aprofundar na história além do que é apresentado na sua premissa, para que você tenha uma experiência parecida com a minha, dosada de surpresa e fascínio.

“O ódio dos usados e atormentados, que são filhos dos usados e atormentados, e cujos filhos serão usados e atormentados”.

Entretanto, garanto que você irá se maravilhar com a trama apresentada, se apaixonar por determinados personagens e odiar outros, mas não deixará de compreender nenhum deles. A história também é recheada de aventura, momentos de tensão e também romance. Um romance intenso que rouba a cena no momento certo.

Outro aspecto sobre a autora, é que com a mesma intensidade que ela te envolve e te conquista, ela também é capaz de quebrar seu coração em diversos pedacinhos. Foi assim que me senti no final dessa história, devastada e sem saber o que esperar da continuação. Só sei que preciso dela o quanto antes.

“E é assim que você segue em frente. Você dá risada das partes sombrias. Quanto mais partes sombrias, mais você tem de rir. Com rebeldia, com despreocupação, com histeria, da forma como puder”.

Apesar de ter altas expectativas, Um Estranho Sonhador conseguiu superá-las. Como já conhecia e apreciava a escrita da Laini Taylor, me surpreendi ao vê-la ainda mais madura. Acredito que o seu grande forte é a delicadeza com que conduz uma trama que vai da maravilha ao horror. Se você deseja conhecê-la, este é o livro certo para iniciar, porque é impossível não se sentir envolvido e parte da história, como um estranho sonhador.

Título: Um Estranho Sonhador (Strange the dreamer #1)
Autor: Laini Taylor
Tradução: Eloise de Vylder
Editora: Universo dos Livros
Ano: 2019
Páginas: 544
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Sinopse: O sonho escolhe o sonhador, e não o contrário – e Lazlo Estranho, órfão de guerra e bibliotecário júnior, sempre temeu que seu sonho tivesse escolhido mal. Desde os cinco anos, ele era obcecado pelos mistérios de Lamento, uma cidade mítica perdida. O que aconteceu lá duzentos anos atrás que a separou do restante do mundo? Que tipo de deuses existiam lá e foram mortos pelo Matador de Deuses? Essas respostas o aguardam em Lamento, mas também mais mistérios – incluindo a deusa de pele azul que aparece nos sonhos de Lazlo.
Neste romance de tirar o fôlego – indicado para sonhadores dispostos a se aventurar em mundos mágicos, repletos de personagens marcantes e seus conflitos emocionais –, a sombra do passado é tão real quanto os fantasmas que assombram a cidadela de divindades assassinadas.