Resenha | Pequenas Realidades, Tabitha King

“Diante da vida, tudo parece pequeno.”

Pequenas Realidades é o primeiro livro publicado pela autora Tabitha King. Ela é nada mais nada menos do que a esposa do autor Stephen King. O livro estava em falta aqui no Brasil, e foi relançado recentemente pela editora Darkside Books.

Ao longo do livro vamos acompanhar os passos de principalmente dois personagens. Roger Tinker,  um homem que trabalhou em um projeto ultra secreto para o governo estadunidense, mas por motivos que jamais foram explicados, foi demitido e o projeto foi cancelado. A outra personagem é a filha de um ex presidente, Dorothy Hardest Douglas, ou simplesmente Dolly, uma socialite colecionadora de miniaturas, e a que ela mais se orgulha é uma réplica fiel da Casa Branca.

Apesar de ser uma pessoa com aptidão de trabalhar em um projeto secreto do governo, a sua excepcionalidade para por aí. Aos 30 e poucos anos, Roger ainda mora com a mãe, e é facilmente influenciado pela mesma, a ponto de jamais ter saído de sua tutela. Depois que o projeto foi cancelado, ele se dedica em aprimorar o que ele chama de miniaturizador, uma máquina com a aparência de uma câmera fotográfica, e como o nome sugere, consegue diminuir objetos e seres vivos. 

Se  podemos chamar Roger de uma pessoa esquisita e sem graça, não podemos falar o mesmo de Dolly. Por ser filha de uma importante figura pública do cenário político, desde jovem ela esteve na elite da sociedade norte americana. Com quase 50 anos, ainda é dona de uma beleza invejável.  Mas em contrapartida, ela tem uma personalidade um tanto quanto difícil de se lidar. Pode se dizer que ela mantém as pessoas em sua vida até quando lhe convém, quando ela acha que ainda tem alguma utilidade. Depois disso as descarta. Isso faz dela uma pessoa com muitos inimigos. Agora imagine uma pessoa tão malévola assim encontrar um paspalhão como Roger Tinker e seu miniaturizador. Imaginou? O cenário não é dos mais belos.

Falando um pouco de outros elementos do livro, o começo da história é meio confuso. Especificamente as primeiras 60 páginas. A autora nos apresenta informações em excesso, praticamente todos os personagens da história e a genealogia de alguns. Bem difícil de se situar. Depois disso, a trama dá uma melhorada. Conforme vemos quem é quem, as personagens são mostradas com seus segredos mais escusos e peculiares. Podemos dizer que Tabitha nos mostra o que cada um tem de pior. 

Outro fator negativo para mim foi o fato de os protagonistas não serem nenhum pouco carismáticos.  Não sei se estou sendo justo quando falo isso. Pois pode ser porque eles não sejam mesmo, ou por eles terem características que considero as piores que um ser humano pode ter. E um destaque aqui para Dolly. Uma das vilãs que mais odiei em todos os livros que li.

Fora isso, o livro é cheio de qualidades. Tabitha não é tão prolixa quanto o marido, mas sabe trabalhar muito bem os momentos de tensão e terror psicológico. A última vez que senti uma história com um clima tão sufocante foi na leitura de Cujo. E se os protagonistas não são tão carismáticos, o mesmo não se pode falar dos outros personagens. Muito bem construídos e de certa forma simpáticos. 

Mesmo com seus defeitinhos, Pequenas Realidades é um ótimo livro, gostei muito do final, e ele foi decisivo na minha nota. Quando forem ler, espero que curtam. E por favor, não esperem que a Tabitha escreva igual ou parecido com o Stephen King, cada um é ótimo da sua própria maneira.

Exemplar cedido pela editora.


Pequenas Realidades

Título: Pequenas Realidades
Autor: Tabitha King
Tradução: Regiane Winarski
Editora: Darkside Books
Ano: 2019
Páginas: 320
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Sinopse:  Publicado no Brasil na década de 1980 em uma coleção de terror e fantasia, Pequenas Realidades viveu mais de trinta anos em sebos e prateleiras empoeiradas. Carregado de sutilezas, bizarrices e ferocidade, o livro carrega em seu cerne uma fascinação que fez parte da infância de muita gente: miniaturas. Casas, móveis… e, por que não?, pessoas.

Neste livro, conhecemos a socialite Dorothy Hardesty Douglas, filha de um antigo presidente norte-americano, que vive na redoma de seu legado de sucesso. Entusiasta de miniaturas, ela possui uma réplica da Casa Branca, perfeita em seus mínimos detalhes.Ao conhecer um homem chamado Roger Tinker, que trabalhou para o governo em um projeto secreto, ela descobre uma maneira fantástica — e um tanto perturbadora — de decorar sua casinha.

Em uma trama que envolve relações familiares problemáticas e o mundo estranho e obsessivo das miniaturas, Tabitha King conduz o leitor por uma história grotesca e disfuncional. Não sabemos para onde os personagens vão nos levar com seus atos extremos, e a sensação fascina e aterroriza na mesma medida.

Tabitha King é uma autora interessada no psicológico de seus personagens — e mostra os contornos mais sombrios que podem habitar a mente de todos nós. No mês em que completa setenta anos, a voz cativante e original de Tabitha King chega para fortalecer ainda mais a linha DarkLove, que publica autoras poderosas e cheias de atitude.

Depois de devorar Pequenas Realidades, você nunca mais vai olhar para casinhas de boneca do mesmo jeito.

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8 Comments

  1. Speck Of Giovanna

    Sempre achei mesmo que a autora não faria personagens carismáticos, ela exala frieza em cada palavra escrita. Mas adorei toda sinceridade abordada. E sua resenha ficou maravilhosa. Eu ainda não tive a chance de ler, mas pretendo. Logo.

    1. Rogério Augusto

      Parece que é um consenso geral que ngm gostou muito dos personagens haha

  2. Cecília Justen de Souza

    Ei! Tudo bem?

    Muito legal que estão traduzindo a autora.
    Estava empolgada com a história, bastante, mas acho que os personagens são o foco de uma história, se eles não são carismáticos (no sentido de não atrair a atenção do leitor), fica complicado realizar a leitura, principalmente quando ela é confusa até certa parte.
    De qualquer forma, espero conseguir dar uma chance 🙂

    Beijos!
    http://www.365coresdouniverso.com.br/

    1. Rogério Augusto

      Dê essa chance. Apesar de alguns defeitinhos é uma boa leitura

  3. Jessica Rabelo

    Uma das coisas que me deixa desanimada com o livro é a falta de carisma dos personagens. Simplesmente são minhas “coisas” favoritas na trama.
    Entretanto, por toda a sinopse e todo trabalho narrativo para manutenção do suspense me deixaram alegram para a leitura. Eu nunca me sinto aflita e acho que pode acontecer pela primeira vez com essa obra.
    Beijos.
    Fantástica Ficção

    1. Rogério Augusto

      Senti algo parecido em relação aos personagens. Praticamente todos eles eram de alguma forma desagradaveis

  4. Fernando

    li há muito tempo com o titulo: miniaturas do terror. Bom livro, com alguns momentos bem tensos.

    1. Rogério Augusto

      o bom de livros assim é que os momentos de tensão a gente nunca esquece

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