Resenha | O Ceifador, Neal Shusterman

Sabe quando você fica super empolgado por um lançamento, compra logo após a sua publicação, depois acaba esquecendo o livro na estante? Essa é uma mania muito comum entre leitores. Foi exatamente isso o que aconteceu com O Ceifador. Por mais ansiosa que eu estivesse para conferir a história, ela foi ficando de lado, até que fiquei sabendo do lançamento do último livro da trilogia, que acontecerá em breve.

Foi como um despertar. Em meio a tanta hype, como eu pude deixar esse livro esquecido na estante? Finalmente fiz o que devia ter feito há um tempo, li o livro e quase deixei com que as expectativas estragassem a minha experiência de leitura. A história leva um tempo para engrenar e mostrar o porquê é tão bem falada, mas ela cumpre a sua função e prova que a hype é real.

Em O Ceifador, nos vemos em um futuro utópico, onde o mundo atingiu o ápice do conhecimento. Com isso, também descobrimos a cura para todo tipo de doença e fatalidade. Além das pessoas pararem de morrer, elas também são capazes de se rejuvenescer. É praticamente impossível saber qual a idade de alguém através de sua aparência, a não ser que você olhe bem em seus olhos e identifique certa estagnação.

“A Nimbo-Cúmulo nos proporcionou um mundo perfeito. A utopia com que nossos ancestrais sonhavam é a nossa realidade.”

E esse é o principal problema desse mundo permeado de imortais, a estagnação. Com o tempo, as pessoas se acomodaram com o conhecimento proporcionado pela Nimbo-Cúmulo, a nuvem. Foi por consequência disso que A Ceifa surgiu, uma organização de ceifadores que escolhe indivíduos para coletar, ou seja, matar. As pessoas que morrem pelas mãos de um ceifador não podem ser revividas.

É neste cenário que conhecemos Citra e Rowan, dois aprendizes de ceifador. Eles atendem ao principal requisito para se tornarem membros da Ceifa, que é não querer fazer parte dela. Ter a função de matar alguém parece mórbido e impossível, por isso é com muita relutância que eles aceitam ser treinados por Faraday, um ceifador experiente e de muito prestígio. E é através dos dois que nós começamos a conhecer a misteriosa organização.

“Esqueça tudo o que vocês pensam saber sobre ceifadores. Abandonem sua ideia preconcebidas. Sua educação começa agora.”

Apesar do primeiro requisito, não é bem assim que as coisas funcionam. Em paralelo à história de Citra e Rowan, nós também temos conhecimento sobre um grupo de ceifadores especialistas em coletas em massa. Eles não só gostam, mas se divertem muito durante a chacina. Tudo o que Faraday ensina a Citra e Rowan cai por terra enquanto assistimos as atrocidades praticadas por esse grupo.

É em meio a esses mistérios que nós nos aprofundamos no universo de O Ceifador. Apesar do mundo e a trama serem muito intrigantes, o que me preocupou foi que demorei para me apegar aos personagens. Eles pareciam superficiais e muito distantes. Eu me vi querendo saber mais sobre a história através de outros olhares. A cada novo capítulo, nós temos acesso a alguns fragmentos do diário de Curie, a Grande Dama da Morte, e é a partir desses trechos que me vi bastante conectada a ela, o que não estava acontecendo com os personagens centrais.

Entretanto, o cenário ganha uma grande reviravolta na metade da história, o que me deixou bastante empolgada. Perdi as contas de quantas vezes fui surpreendida e não consegui imaginar para onde a história iria. A aproximação com os personagens, para meu alívio, aconteceu, e acredito que foi no tempo certo. Eles possuem muitas camadas, além de serem bastante reservados. Citra e Rowan possuem muitas coisas em comum, mas ele se mostrou muito mais complexo. O interessante foi acompanhar o quanto ambos evoluíram no decorrer da história.

Fazia um tempo que eu não lia uma história com tantas reviravoltas, o que explica toda a minha empolgação. Cheguei a subestimar o livro e sua hype, mas pude comprovar que ela é real. O universo criado por Neal Shusterman é vasto e ainda tem muito para ser explorado. Principalmente pelos mistérios envolvendo a nuvem e a corrupção presente na Ceifa, o que nos leva a questionar se a mortalidade e os meios não naturais de acabar com ela são a forma ideal de conduzir esse mundo.

“Você não pode mudar as leis sem antes mudar a natureza humana.”

O que surpreendeu também foi a trama ter se fechado quase por completo neste primeiro volume. O conflito que eu imaginei que seria solucionado durante a trilogia foi resolvido já neste livro, o que fez com que o autor ganhasse pontos comigo. Algo que aprendi com essa história foi não subestimar Neal Shusterman, então estou mais do que ansiosa e animada para seguir desvendando seu universo e também ser contemplada com as suas ótimas reviravoltas.


O Ceifador

Título: O Ceifador (Scythe #1)
Autora: Neal Shusterman
Tradução: Guilherme Miranda
Editora: Seguinte
Ano: 2017
Páginas: 448
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Sinopse: Primeiro mandamento: matarás.
A humanidade venceu todas as barreiras: fome, doenças, guerras, miséria… Até mesmo a morte. Agora os ceifadores são os únicos que podem pôr fim a uma vida, impedindo que o crescimento populacional vá além do limite e a Terra deixe de comportar a população por toda a eternidade.
Citra e Rowan são adolescentes escolhidos como aprendizes de ceifador – papel que nenhum dos dois quer desempenhar. Para receberem o anel e o manto da Ceifa, os adolescentes precisam dominar a arte da coleta, ou seja, precisam aprender a matar. Porém, se falharem em sua missão ou se a cumplicidade no treinamento se tornar algo mais, podem colocar a própria vida em risco.

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One Comment

  1. Jessica

    Oi Gi
    Eu realmente adorei esse livro. Foi uma das leituras mais surpreendentes que fiz e fico extasiada que você também tenha gostado. A gente poderia ler juntas o segundo? Seria ótimo, para debater kk
    De qualquer modo concordo em tudo com você. O fato de ser uma obra que quase se fecha é excepcional.
    Beijos.
    Fantástica Ficção

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