Resenha | O Cemitério, Stephen King
Louis Creed não esperava o quanto a sua vida, e a de sua família mudariam quando saíssem de Chicago para uma pequena chamada Ludlow, localizada no Maine. Mal ele sabia as decisões que tomaria quando se deparasse e adentrasse aos bosques espessos e verdes, divididos entre os verdes pálidos de matos comuns até o verde mais denso que guia para uma trilha colina acima. Esse caminho leva a um local de despedida: um cemitério para animais, e para além dele, um local sobrecarregado de lendas indígenas, mistérios e um poder assustador e sobrenatural.
Foi aí que os Creed foram parar. E por falar neles, são uma típica família norte americana da década de 1970 e 1980. Louis, o homem da casa, é médico e foi o responsável pela mudança de cidade. Veio para ser médico no campus da universidade local. Sua esposa, Rachel, é a responsável pela casa, os afazeres e a educação dos dois filhos, Ellie, de 5 anos e Gage, prestes a fazer 2 aninhos. E claro, um bichinho de estimação: um gato chamado Church. A família precisa se adaptar à calmaria da pequena cidade, que é bem diferente da agitação de Chicago.
Sorte a deles, que próximo a sua casa, encontrariam a amizade e companhia de um senhor chamado Jud Crandall. Louis simpatiza logo de cara com esse velhinho e imagina como sua infância e outros períodos da sua vida poderiam ser diferentes, se Jud fosse o seu pai. Vale ressaltar, que a relação entre esses dois personagens é um dos pontos fortes da obra. E cá entre nós, será responsável por aquele gosto amargo que algumas das histórias do King nos trazem.
“Não há ganho sem risco. E talvez não haja risco sem amor.”
O protagonista do livro é o já citado Louis. Diferente de outros personagens do autor, não é escritor ou professor de literatura e língua inglesa, mas sim um médico. Assim como não é um cara alto (meio que uma marca registrada do nosso King). Louis é um cara comum, de aparência igualmente comum, mas com grande dedicação a sua esposa e aos seus filhos. Como em muitos casos, vive uma relação delicada com o sogro, que inclusive é aquele tipo de homem capaz de tudo para sua filha não se relacionar com “um qualquer.” Então dá para imaginar o alívio de nosso “herói” ao ter a chance de se afastar dos pais de sua esposa.
“Inventamos razões… e elas sempre parecem boas razões… mas em geral, agimos assim simplesmente porque queremos, ou porque temos de agir assim.”
Outro personagem importante da obra, mas que não é uma pessoa, é o cemitério dos animais, ou como se vê em algumas placas do local “Simitério dos Bichos.” Essa área e o que está além dela, um antigo terreno de nativos americanos, conhecidos como micmacs estão presentes na memória coletiva dos moradores de Ludlow. Claro que, os mais jovens não são capazes de conhecer os profundos segredos que esse território guarda. Uma pena não estarem dispostos em ouvir o que os mais velhos teriam pra contar. Isso se os mais velhos estivessem dispostos a contar. Até porque é difícil de acreditar.
O Cemitério é a obra produzida pelo Mestre Stephen King que mais caiu em seu desgosto. Ela foi escrita em um momento obscuro e complicado da vida do autor. Tanto ele, quanto a sua principal crítica, sua esposa, Tabitha, consideram esse livro algo mal, carregado com uma aura de negatividade tão grande. Bom, talvez pelo título, isso possa ter afastado os leitores mais sensíveis e que tenham “medo” em sentir medo ao ler algo.
“Há coisas secretas, Louis. O solo do coração de um homem é mais empedernido… como o solo no velho cemitério micmac. Mas um homem planta o que pode… e cuida do que plantou.”
Fui alertado que esse O Cemitério era o livro com a temática mais pesada do autor. Quando alguém te fala isso, automaticamente se pensa em uma história para se ter medo de ler a noite. Mas não é esse o caso. A questão é que fala sobre algo que temos medo em pensar e falar. Aborda o apagar de luzes de nós humanos, o último vento pela janela, dessa jornada que chamamos de vida. Não gostamos de pensar em morrer. Não gostamos de pensar no que vem depois, do que ocorre quando A Morte semeia nossas vidas. Pensar nisso, nos leva a outros questionamentos. Se morrer é a continuidade para outro estágio, ou se apenas é o que mais tememos: larvas e carne podre em um caixão no cemitério. Não é uma ideia agradável. E para nós, coisas desagradáveis e perguntas sem respostas, são o que mais tememos.
Título: O Cemitério
Autor: Stephen King
Tradução: Mário Molina
Editora: Suma de Letras
Ano: 2017
Páginas: 424
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Sinopse: Louis Creed, um jovem médico de Chicago, acredita que encontrou seu lugar em uma pequena cidade do Maine. A boa casa, o trabalho na universidade e a felicidade da esposa e dos filhos lhe trazem a certeza de que fez a melhor escolha. Num dos primeiros passeios pela região, conhecem um cemitério no bosque próximo à sua casa. Ali, gerações de crianças enterraram seus animais de estimação. Mas, para além dos pequenos túmulos, há um outro cemitério. Uma terra maligna que atrai pessoas com promessas sedutoras. Um universo dominado por forças estranhas capazes de tornar real o que sempre pareceu impossível. A princípio, Louis Creed se diverte com as histórias fantasmagóricas do vizinho Crandall. No entanto, quando o gato de sua filha Eillen morre atropelado e, subitamente, retorna à vida, ele percebe que há coisas que nem mesmo a sua ciência pode explicar. Que mistérios esconde o cemitério dos bichos? Terá o homem o direito de interferir no mundo dos mortos? Em busca das respostas, Louis Creed é levado por uma trama sobrenatural em que o limite entre a vida e a morte é inexistente. E, quando descobre a verdade, percebe que ela é muito pior que seus mais terríveis pesadelos. Pior que a própria morte – e infinitamente mais poderosa.
Edno
Eu li o livro mas não entendi uma coisa,até procurei a resposta mas não obtive nenhuma satisfatória!
Porque o cabelo do Louis Creed ficou branco????