Resenha | M, O filho do século, Antonio Scurati

Palavras como socialismo, comunismo e fascismo estão na moda “atualmente.” Mas será que quando alguém fala isso, sabe o real significado do que está falando? Expressarei minha opinião pessoal, e vou chutar que não. Caso você acesse as redes sociais, principalmente em postagens sobre política, quando é expressado opinião contrária a outra pessoa, me parece que as pessoas ativam a seguinte sentença do poeta e filósofo francês, Paul Valéry: quem não pode atacar o argumento, ataca o argumentador. 

Seguindo adiante, acredito que quem não curta muito História, ou não tenha um conhecimento básico a nível intermediário sobre os eventos ocorridos nas primeiras décadas do século XX, principalmente da História da Itália, talvez se sinta um pouco perdido nessa leitura. Não estou dizendo que é impossível de ler, mas com um pouco mais de conhecimento, é melhor para o leitor se habituar a acontecimentos, personalidades e localizações. O que não falta na obra são nomes, e isso pode atrapalhar um pouco a leitura de quem não está acostumado a livros assim.

M, o Filho do Século, é uma obra de não ficção, que narrará uma pequena jornada da história de Benito Mussolini. (Pois é, mais de 800 páginas, e esse é só o primeiro livro contanto a vida dessa figura histórica, e até onde eu sei, será uma trilogia).  Sendo assim, nesse primeiro volume, iremos acompanhar Mussolini na sua trajetória de jornalista político, que até então era apoiado pelas causas socialistas italianas. A sua expulsão do Partido Socialista Italiano se deu por escrever inúmeras vezes que gostaria de permanecer neutro em relação à guerra. Essa expulsão acabou acarretando a criação do Partido Revolucionário Fascista, ao  Fascio d’azione rivoluzionaria, que foram responsáveis pela denúncia do crescente marxismo na Itália, mas que ainda assim, na época apoiava o socialismo. É claro que com o tempo, isso mudou, pois nem a direita e nem a esquerda italiana, queriam algum envolvimento com os fascistas de Mussolini.

Scurati foca principalmente nos eventos ocorridos de 1919-1925, e utilizou inúmeras fontes históricas para criar uma narrativa coesa. Dentre elas estão: diários, cartas, fotografias, manifestos e reportagens dos principais jornais editorias da época, entre eles, o local onde Benito Mussolino trabalhava, Il Popolo d’Italia.

Falar sobre o fascismo não é algo fácil, nunca foi. Mas nos tempos atuais tem se tornado mais difícil. Me parece que aqui no Brasil, ainda temos um pensamento àla Guerra Fria, onde existem discursos cheios de dicotomia. O bem versus o mal. Direita versus esquerda (aqui não dá pra saber quem é o bom e o mal), criticar o capitalismo faz de você um comunista e vice-versa. Quem sabe a leitura de M, O filho do século, seja mais um ótimo material para sairmos desses discursos vazios, e levar o leitor a refletir que a origem de uma ideologia, não é algo tão simples a se definir por duas ou três palavras. Boa leitura!

Exemplar cedido em parceria com a editora.

Título: M, o filho do século
Autor: Antonio Scurati
Tradutor: Marcello Lino
Ano: 2020
Páginas: 816
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Sinopse: O romance M, o filho do século conta em trama eletrizante a história de Mussolini e sua ascensão de agitador político a líder do fascismo sob a perspectiva do ditador e de seus íntimos, durante o período de 1919 até 1925. Valendo-se de vasta base documental, Antonio Scurati traz uma narrativa totalmente calcada na realidade, porém elaborada com os recursos que fazem com que o leitor entre na mente dos grandes personagens da ascensão do fascismo, compreenda todo o clima da época e assista a tudo como se lá estivesse.
Muitas vezes irônico, ácido e — por que não? — irreverente, Scurati brinda o leitor com uma premiada obra-prima que em diversos momentos assume ares de roteiro de filme. Mas nem por isso o autor atenua fatos ou banaliza atrocidades. Ao aproximar o leitor de um dos maiores ditadores do século XX, mostrando também seus percalços, mazelas e habilidades, Scurati revela como a história é definida por pessoas em última análise comuns, com o consentimento — ou ignorância — de pessoas comuns.