5 motivos para ler | O Diário de Nisha, Veera Hiranandani

O diário de Nisha é aquele tipo de leitura que desperta diversas emoções, sobretudo a garganta apertada e o coração aquecido. Por mais difícil que possa parecer em alguns momentos, a narrativa surpreende pela leveza com que conduz a história. Ao finalizar o livro, o que prevalece são as boas sensações e a esperança. Entrou para a categoria de livros que recomendo de olhos fechados para todo mundo. Assim sendo, separei os 5 principais motivos para convencê-lo a dar uma chance a essa história.

#1 | Retrato histórico

Quando a índia se tornou independente do governo britânico, na década de 70, a tensão religiosa atingiu seu ápice, estando em principais pontos opostos os hindus e os muçulmanos. A forma com que os governantes escolheram lidar com essa situação foi dividir a índia em Nova Índia e Paquistão, com o intuito de separar os grupos religiosos e cessar uma guerra civil que deixou milhões de feridos.

“Olho por olho, e o mundo acabará cego”.

No entanto, a partição ocorreu em meio a confrontos de ódio e muita violência. Nisha relata em seu diário toda a tensão e o medo que sua família enfrentou para conseguir se locomover. O intuito da autora, Veera Hiranandani, ao retratar muito do que sua família vivenciou nesse período, além de ressaltar a dificuldade em que a humanidade lida com as diferenças, também salienta a importância de se lembrar dos erros do passado, para que eles não se repitam no futuro.   

#2 | Culinária indiana

Uma das coisas que mais me encheu os olhos e me fez vivenciar essa leitura de forma especial foi a presença da culinária indiana. Nisha adora cozinhar, além disso, ela considera Kazi, o cozinheiro, um dos seus entes mais queridos. Ela passa horas e horas na cozinha ao lado dele, tanto pela sua presença quanto para aprender e colocar em prática algo que ela gosta tanto. As descrições das comidas, desde o seu preparo, até a vastidão de temperos e peculiaridades me deixou com água na boca e despertou o meu interesse para buscar sobre elas além das páginas do livro.

Já me arrisquei em produzir o chapati, esse pãozinho da foto, e o resultado não me decepcionou. Ele é tão gostoso quanto eu esperava. Essa foi apenas a primeira das receitas no qual pretendo me deliciar em breve. A editora Darkside fez uma matéria sobre os principais pratos citados no livro e disponibilizou em seu blog, confira aqui.

#3 | Relação entre Nisha e Amil

Nisha e Amil são irmãos gêmeos quase tão diferentes na aparência física quanto no comportamento. Nisha é tímida e reservada, enquanto Amil é extrovertido e fala tudo o que pensa. O mais interessante da relação entre os dois, é que quanto mais diferentes eles são, mais eles parecem compreender um ao outro, como se eles se completassem de alguma forma.

“O que eu faria sem Amil? Ele é minha voz. Ele faz as perguntas que não consigo fazer”.

Amil é um garoto inquieto, que possui muitas dificuldades na escola. Por consequência disso, seu pai o trata com muita crueldade em diversos momentos. Entretanto, Nisha consegue reconhecer que sua mentalidade funciona de outra maneira, que seu intelecto se expressa através de outras formas, como através arte e do desenho.

Quando você espera algum tipo de conflito entre eles ocasionado por suas diferenças, a sensibilidade e a empatia que eles possuem um com o outro surpreende e te deixa com o coração apertado. Esse foi um dos relacionamentos entre irmãos mais bonitos que já presenciei na literatura.

#4 | Aquece o coração

Admito que iniciei a leitura com o pé atrás, prevendo que seria uma experiência difícil, mas a forma com que Nisha conduz a história é muito leve, até mesmo nas situações mais complexas. Tudo é tão puro e sincero que você se vê de coração aquecido, querendo fazer do mundo um lugar melhor.   

Por ser narrado por uma criança, você enxerga toda a situação com uma delicadeza e simplicidade singular, algo que perdemos quando nos tornamos adultos. Essa é a magia que histórias narradas por crianças possui. Questões de extrema importância são atropeladas dia a dia por frivolidades que nos deixam cada vez mais cegos. Nisha expõe inúmeras reflexões com uma clareza e uma sensibilidade admiráveis, o que te faz refletir e muito sobre o seu próprio papel na sociedade.   

#5 | O Diário de Nisha

Começo enfatizando que não foi fácil me despedir de Nisha. Durante os primeiros dias depois de finalizar a leitura, senti muito a falta de sua companhia. Nisha é uma garotinha de 12 anos, que possui muita dificuldade de se comunicar com as pessoas. Ela também busca incessantemente a sua verdadeira identidade, já que não consegue se identificar muito com o pai e sofre com a ausência de sua mãe, que morreu no dia do seu nascimento.

Parte hindu por parte do pai e muçulmana por parte da mãe, os conflitos políticos a atingem com ainda mais intensidade. Qual o seu verdadeiro lugar? É preciso escolher um lugar? É através do seu diário que ela começa a explorar e colocar para fora seus sentimentos e anseios. Para ela se sentir ainda mais conectada ao diário, ela endereça suas palavras a sua mãe, como se fossem cartas.

“No mês passado éramos todos parte do mesmo país, todas essas pessoas e religiões diferentes vivendo juntas. Agora temos que nos separar e odiar uns aos outros”.

Quase diariamente, ela compartilha os principais detalhes do seu cotidiano, sua relação com a família e também sobre o cenário político que tanto a aflige. Além de ter me identificado com ela em diversos momentos, também me acostumei com o seu olhar delicado e sincero sobre as coisas. Sem sombra de dúvidas, eu leria outros diversos diários sobre seu cotidiano, sem me entediar. Espero ter te convencido a ler esse livro que me surpreendeu, ensinou e me fez muito feliz.

Exemplar cedido em parceria com a editora.


O Diário de Nisha

Título: O Diário de Nisha
Autora: Veera Hiranandani
Tradução: Débora Isidoro
Editora: Darkside Books
Ano: 2019
Páginas: 288
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Sinopse: Nisha não é de falar muito. Quietinha e reservada, prefere observar as pessoas ao seu redor e anotar os detalhes do cotidiano em seu diário, onde pode ser ela mesma. E ser ela mesma não é nada fácil no epicentro da Partição da Índia, que, após séculos de tensão religiosa, atinge seu ápice criando dois estados independentes do governo britânico: a Índia (maioria hindu) e o Paquistão (maioria muçulmana). ㅤ
Parte hindu e parte muçulmana, Nisha não sabe muito bem a qual lugar pertence, e não entende os desdobramentos políticos deste momento tão crucial da história. Por que hindus e muçulmanos estão brigando tanto entre si? Por que milhares de pessoas precisam abandonar seus lares? E por que tantas acabam morrendo ao atravessar as fronteiras?
Com as tensões criadas pela separação, o pai de Nisha decide que é perigoso demais para eles permanecerem no lugar que, agora, se tornou o Paquistão. É neste cenário turbulento que Nisha e sua família embarcam no primeiro trem, rumo a um novo lar.

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