Ao Paraíso: Sofrência Distópica
Comecei o ano empolgada com os colhamaços. Olhei para “Ao Paraíso”, ele olhou pra mim. E fomos de encontro um ao outro! E bem, não sei ainda o que falar sobre esse livro, só sentir. Ele é escrito pela mesma autora de Uma Vida Pequena, Hanya Yanagihara. (Ou seja, eu sabia que vinha sofrimento por aí rs).
Aqui temos três histórias situadas em um mundo paralelo, muito parecidos com o nosso, mas com alguns elementos que os distanciam. Na primeira história, temos uma utopia vitoriana onde os EUA se separou e parte dele aceita tanto casamento entre homens como entre mulheres. Ali conhecemos um herdeiro que decide abandonar tudo para viver um amor incerto.
Depois, acompanhamos um jovem que teve um passado conflituoso com o pai no Hawaii e acaba enxergando em seu parceiro uma figura protetora. Por último, uma história que se divide em duas partes, o antes e o depois. Uma mulher que sobrevive em meio a um governo totalitário e diversas pandemias, e antes disso, acompanhamos seu avô, um cientista tentando lidar com todas as novas doenças e o risco de perder sua família.
O que todas essas histórias têm em comum? Todos os personagens buscam de alguma forma, chegar ao paraíso. Elas compartilham também inúmeros elementos semelhantes, como nomes, lugares, ascendência. Elementos tão em comuns que causaram uma boa confusão em minha cabeça (que ficava a todo custo tentando relacionar uma história com a outra). 😅
E eu ficava muito triste quando cada história acabava, porque queria continuar acompanhando os personagens e saber se eles conseguiriam chegar até onde queriam. Inclusive, levei um bom tempo para superar a primeira história e seguir em frente. No entanto, no decorrer do livro, a autora distribuiu algumas referências de uma história a outra, e não consigo explicar como me senti emocionada cada vez que conseguia captá-las (sim, eu estava doida por cada migalha delas).
Conforme previsto, teve sofrimento? Teve e muito! Como sofri com esses personagens! Fora que ler sobre uma pandemia devastadora tão cedo não foi nada bom. Sinceramente, não sei se compreendi a total proposta da autora, só sei que senti muito a intensidade dessa história. Se você estiver disposto a encará-la, cuidado com os conteúdos sensíveis, no mais, boa viagem! Saiba que o veículo para embarcar nessa história será uma montanha-russa recheada de emoções.
Título: Ao paraíso
Autora: Hanya Yanagihara
Tradução: Ana Guadalupe
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2022
Páginas: 720
Em uma versão alternativa dos Estados Unidos de 1893, Nova York integra os Estados Livres, onde as pessoas podem amar quem quiserem (pelo menos é o que parece). Um jovem herdeiro de uma família renomada resiste ao noivado com o pretendente escolhido por seu avô, após cair nas graças de um charmoso professor de música com parcos recursos. Em uma Manhattan de 1993, assolada pela epidemia de aids, um jovem havaiano vive com seu companheiro muito mais velho e endinheirado, escondendo sua infância conturbada e a história de seu pai. E, em 2093, num mundo devastado por pandemias e sob um governo autoritário, a neta traumatizada de um cientista poderoso tenta viver sem ele – e solucionar o mistério dos sumiços do marido.
Essas três seções se combinam em uma sinfonia fascinante e engenhosa à medida que temas recorrentes se aprofundam e se relacionam: uma casa em Washington Square Park em Greenwich Village; doenças e tratamentos com custos enormes; riqueza e miséria; a oposição entre fracos e fortes; raça; a definição de família e de nação; os perigos da justiça dos poderosos e dos revolucionários; o desejo de encontrar um paraíso terreno e a percepção gradual de que algo do tipo é impossível. O que une tanto os personagens como esses diferentes Estados Unidos é o ajuste de contas com aquilo que nos torna humanos: o medo, o amor, a vergonha, a falta e a solidão.
Ao paraíso é um exemplo formidável de técnica literária, mas acima de tudo é um romance genial na forma como aborda as emoções. Sua grande força resulta da percepção de Yanagihara sobre o desejo angustiante de proteger aqueles que amamos – companheiros, amantes, filhos, amigos e até nossos concidadãos – e sobre a dor que sentimos quando isso não é possível.
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