Filme x Livro | O Labirinto do Fauno

Diferente do que vocês estão acostumados a ver por aqui, avaliaremos a fidelização do livro com relação ao filme, que veio antes. O Labirinto do Fauno é um filme de 2006, escrito, dirigido e produzido por Guillermo del Toro. Recentemente, o cineasta mexicano entrou em contato com Cornelia Funke, mais conhecida por sua trilogia Mundo de Tinta, e propôs uma parceria para que ela pudesse escrever o livro de O Labirinto do Fauno.

Mesmo já tendo assistido há muito tempo, confesso que não lembrava muito bem do filme, o que foi bom, já que pude mergulhar nas páginas do livro como se fosse a primeira vez. A história de fantasia criada por del Toro é obscura e violenta, mas ao mesmo tempo flerta com o aspecto aventuresco de um conto de fadas. Com a escrita de Cornelia Funke, a história se tornou ainda mais profunda e delicada.

P R E M I S S A

O ano é 1944, Ofélia e sua mãe, debilitada por uma gravidez de risco, fazem uma viagem arriscada em meio a uma floresta, até chegar em um moinho antigo, seu novo lar. Adaptada no regime fascista da Espanha de Franco, o esposo de sua mãe é um capitão cruel, que caça rebeldes nos arredores da mata.

Como refúgio desta nova realidade, Ofélia tem como companhia livros de contos de fadas e uma imaginação muito fértil. Logo quando está chegando no moinho, ela se depara com um monólito antigo de aspecto estranho, mas de lá sai um inseto ainda mais intrigante, no qual Ofélia percebe que é uma fada.

“Os livros poderiam ensiná-la tanto sobre este mundo e outros lugares distantes, sobre animais e plantas, sobre as estrelas! Podiam ser janelas e portas, asas de papel para ajudá-la a voar para bem longe”.

Para seu deleite, a floresta que a abrigará é também o lar de criaturas mágicas e muito antigas. O labirinto que fica de frente para o moinho pode ser a entrada para o reino subterrâneo, um lugar encantado e sombrio, habitado por um rei e uma rainha que há muito tempo estão em busca de uma princesa perdida que está prestes a retornar para seu lar.

F I L M E

Quando terminei de ler o livro, é claro que fui conferir o filme novamente, já que não me lembrava muito dele. Agora, tenho certeza que essa experiência se tornou inesquecível. Guillermo del Toro constrói histórias fantásticas que se entrelaçam com nossa realidade. O cotidiano da Espanha franquista não era fácil, mas apesar de sombria, a trama oferece uma espécie de refúgio através da magia, a esperança de que há outros caminhos para percorrer.

Apesar do que pode parecer, esta não é uma história para crianças. As cenas de violência são bastante fortes e explícitas, até mesmo eu tive dificuldades para encará-las. As partes em que Ofélia lida com o fauno, suas criaturas mágicas e seus deveres é um deleite para imaginação, mesmo que o horror tome conta de determinadas situações, como no momento em que ela se vê frente a frente com o homem pálido.

“Os piores medos estão sempre abaixo de nós, escondidos, abalando as estruturas que queríamos que fossem firmes e seguras”.

Os efeitos especiais são magníficos. Acho que esse é o grande forte de Guillermo del Toro, desenvolver criaturas tão incríveis. Eu me vi encantada a cada aparição do fauno ou nos momentos em que a história abusava do seu lado mágico. Não é possível distinguir o que é sonho e realidade, mas acredito que isso é o que torna a história tão especial e ao mesmo tempo agridoce.

L I V R O

Cornelia Funke deu a história as palavras que ela merecia. Ela descreve a história do filme com muita fidelidade e sensibilidade. Sua escrita é mágica e nos faz visualizar cada acontecimento de forma muito próxima da que vemos na tela. Como li o livro e depois fui conferir o filme, fiquei muito surpresa do quão próximo minha imaginação chegou do que é mostrado ali.

Além disso, minha parte favorita do livro são os contos que ele apresenta. A narrativa da história principal é intercalada com ilustrações incrivelmente fieis ao filme e também contos de fadas inéditos, que exploram o universo criado. Através deles, conhecemos a origem do labirinto, histórias sobre as criaturas mágicas e até mesmo sobre o moinho. A cada conto eu me sentia cada vez mais próxima da história, como se ela fosse real de verdade.  

“Os mortais não entendem que a vida não é um livro que você fecha só depois de ler a última página. Não existe última página no Livro da Vida, pois a última é sempre a primeira página de outra história”.

A edição está espetacular. Além das ilustrações, no qual mencionei, o livro tem capa dura, pintura trilateral e muitos outros caprichos. Tudo isso funciona muito bem para que você se sinta cada vez mais imerso dentro da história.

Não consegui escolher uma obra favorita, já que as duas proporcionam experiências semelhantes e se completam. Essa é a segunda vez que acompanho o filme e o livro de uma história criada por del Toro. Reconheci alguns pontos em comum, como o vilão impiedoso e caricato, mas que possui suas estranhas motivações. Identifiquei também a sua incrível capacidade de criar fantasias sombrias e bonitas ao mesmo tempo, um retrato que não vai muito além da nossa realidade, que também é cercada de horror e beleza.

Exemplar cedido em parceria com a editora.


O Labirinto do Fauno

Título: O Labirinto do Fauno
Autor: Guillermo del Toro e Cornelia Funke
Ilustrações: Allen Williams
Tradução: Bruna Beber
Editora: Intrínseca
Ano: 2019
Páginas: 320
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Sinopse: No ano de 1944, Ofélia e a mãe cruzam uma estrada de terra que corta uma floresta longínqua ao norte da Espanha, um lugar que guarda histórias já esquecidas pelos homens. O novo lar é um moinho de vento tomado pela escuridão e pela crueldade do capitão Vidal e seus soldados, dispostos a tudo para exterminar os rebeldes que se escondem na mata.
Mas o que eles não sabem é que a floresta que tanto odeiam também abriga criaturas mágicas e poderosas, habitantes de um reino subterrâneo repleto de encantos e horrores, súditos em busca de sua princesa há muito perdida. Uma princesa que, segundo os sussurros das árvores, finalmente retornou ao lar.
No livro, a narrativa de Ofélia é intercalada com ilustrações e contos de fadas inéditos, baseados em elementos-chave de O Labirinto do Fauno. A obra é uma impactante ode ao poder das histórias, seja em imagens ou palavras, e a sua capacidade de transformar a realidade a nossa volta.

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