Resenha | O Homem do Castelo Alto, Philip K. Dick
Ao decorrer da história humana encontramos inúmeros capítulos sobre a nossa evolução: seja ela individual, como sociedade, no campo das crenças e das ciências. Mas me parece que sempre acompanhado das evoluções positivas estão as atrocidades e desumanidades que apenas nós somos capazes de fazer. Num passado não tão distante assim, temos uma mancha horrorosa nas linhas de nossa história, os eventos que cercam o período das grandes guerras que ocorreram no século XX. Agora imagine se o outro lado, com Alemanha e Japão tivessem vencido, como será que as coisas teriam sido? Em sua visão, o autor Philip K. Dick nos mostra, em O Homem do Castelo Alto.
Alemanha e Japão saíram como os grandes vencedores da Segunda Guerra Mundial. Com isso, eles dividem e devastam o mundo entre si. Os Estados Unidos, onde se passa toda a trama do livro, é dividido: o lado oeste pertence aos orientais e o leste aos alemães. Outro locais do planeta, em que dificilmente se encontra pessoas de pele branca, como o continente africano, a população é praticamente varrida do mapa. A escravidão volta a se tornar uma prática legal, desde que os escravos não tenham a pele clara. Os judeus continuam sendo devastados e oprimidos. Os alemães, não ficam satisfeitos com a colonização global, e arriscam a vida no espaço, para conquistar e dominar a galáxia. Os japoneses preferem ficar por aqui, e mostram aptidão em admirar tudo o que é de antigo da cultura norte americana.
Com esse caos instaurado nas vidas das pessoas, ressurge um livro presente por milhares de anos na cultura chinesa, o I Ching: O Livro das Mutações. Esse livro é composto por inúmeras camadas de textos sobrepostas ao longo do tempo. O seu nome, ching, foi dado pelo filósofo chinês Confúcio, e significa clássico. A obra é interpretada como um livro de sabedoria e também como uma espécie de oráculo. E é dessa última forma que o I Ching acaba sendo tratado na obra. As pessoas nunca deixam de tomar uma decisão sem consultar o seu oráculo. Seja para coisas tolas ou importantes, como virar um empreendedor, a decisão será tomada de acordo com uma boa ou péssima profecia.
E se O Homem do Castelo Alto é uma segunda via para a nossa história, dentro dele existe uma terceira via e em forma de outro livro: O gafanhoto torna-se pesado, mostrando como as coisas seriam se os Estados Unidos e a Inglaterra tivessem vencido a guerra. E como eu disse, não se trata de nossa linha do tempo, mas uma terceira via, uma opção alternativa. Pois os norte americanos e ingleses também dividiriam o planeta entre si, mas ao contrário de toda a opressão que existe num mundo em que alemães e japoneses são vencedores, ou com todos os problemas existentes na nossa realidade, nessa terceira via, o mundo é um lugar melhor, onde as pessoas vivem bem e em prol de ajudar o próximo, uma sociedade mais igualitária. Temos então uma utopia (O gafanhoto torna-se pesado), dentro de uma distopia (O Homem do Castelos Alto). E é claro, como em todo governo autoritário, quando é trazido à tona algo que faz as pessoas refletirem, esse livro foi proibido.
“Um mundo psicótico, este em que vivemos. Os loucos estão no poder. Há quanto tempo sabemos disso? Encaramos isso? E… quantos de nós sabem? Lotze, não. Talvez, se soubermos que somos loucos, então não sejamos loucos. Ou estamos, finalmente, deixando de ser loucos. Despertando. Suponho que apenas poucas pessoas tenham consciência disso. Pessoas isoladas, aqui e ali. Mas as grandes massas… o que será que elas pensam? As centenas de milhares de pessoas aqui nesta cidade. Será que imaginam que vivem num mundo são? Ou adivinham, vislumbram a verdade…:”
Algo que me chamou a atenção é que os personagens aqui são pessoas comuns. Nenhum personagem histórico conhecido. O próprio Hitler é apenas citado no decorrer das páginas. Veja bem, temos a visão dos seguintes personagens: Tagomi, representante do comércio japonês; Frank Frink, um judeu que esconde sua identidade e abre uma pequena empresa de artigos americanos; Juliana Frink, ex esposa de Frank, ela deixa do marido para viver sua vida do modo como desejar e Robert Childan, ele venda peças antigas da cultura americana para colecionadores, em sua maioria, os japoneses.
Ao menos por enquanto, esse livro foi uma das melhores leituras de 2019. Assim como a maioria das distopias, é uma importante obra para refletirmos sobre política, governos autoritários, liberdade de expressão, opressão e a forma que nossas vidas são conduzidas. Agora eu vou partir para série disponível na Amazon Prime, e possui o mesmo nome do livro. Valeu, galera.
Exemplar cedido em parceria com a editora.
Título: O Homem do Castelo Alto
Autor: Philip K. Dick
Tradução: Fábio Fernandes
Editora: Aleph
Ano: 2019
Páginas: 312
Skoob | Goodreads | Amazon
Sinopse: 1962, a suástica é hasteada em Nova Iorque. A escravidão é legal, os judeus tentam sobreviver e o I Ching é tão comum quanto horóscopo. Nesta distopia, Philip K. Dick traz uma visão assombrosa da história que poderia ter se tornado real caso a Alemanha nazista e o Japão tivessem ganhado a Segunda Guerra Mundial. Este livro angustiante – adaptado pela Amazon Prime, ganhador do prêmio Hugo de melhor romance – estabeleceu Philip K. Dick no gênero, quebrando a barreira entre a ficção científica e o romance filosófico. Com design de Giovanna Cianelli, a capa conta também com ilustração inédita de Rafael Coutinho, que inspirado pelas obras de Norman Rockwell salienta um dos aspectos mais sombrios do livro: quão próxima da nossa realidade é a história alternativa criada por Dick.
Jessica Rabelo
Oi Rogério
Uma das coisas que mais amo sobre política, são os livros distópicos que tomam como foco abordá-la em suas páginas revelando seu verdadeiro significado acima da vida das pessoas. As vezes costumo me perguntar o que aconteceria se em 1945 as coisas tivessem acontecido da maneira oposta. Assim fico animada para ler um livro que aborda meus pensamentos, mas de maneira mais profunda, mais realísticas com foco bem mais humano. Gostei bastante do livro. Certeza que lerei em breve.
Beijos.
Blog: Fantástica Ficção
Rogério Augusto
Eu to nessa vibe de ler distopia, acho que é um dos generos que mais tem capacidade de nos fazerem refletir sobre a nossa realidade. Espero que goste quando chegar sua hora de ler
Joyce
Nossa, imagino que deve ser angustiante mesmo essa leitura. As pessoas já sofrem hoje,imagine se a Segunda Guerra “os grandes” estivesse vencido. Já gostei da temática do livro. Gosto de livros com essa temática, ótima resenha. Vou anotar aqui.
Ana Claudia Ponce
Oi.
Pensa num livro que quero muito ler. Sinto muito interesse pela temática II Guerra, e pensar no que poderia ter acontecido caso é muito inquietante, ainda mais quando se leva em consideração obras como “Ele está de volta”.
Obrigada pela dica 😘 e parabéns pelo post.
Isadora do Le Portrait de Isa
Que intrigante!
Parece ser aqueles livros que nos coloca a pensar em possibilidades infinitas para o nosso cotidiano!
E como seria, porque seria, como eu viveria?
Achei incrível a premissa do livro, sua resenha e meu que vontade de ler!! hihihih
Bisou bisou , Isa! ❤
ARMANDO BUENO DE SOUSA REIS
Sua resenha está excelente e muitíssimo fiel ao livro. Só tenho uma dúvida, porque “Homem do Castelo Alto” qual é o significado oculto deste termo.
Vitoria
O livro não em cativou muito 🙁 Tive muita dificuldade de entender como funcionava o |Ching, o oraculo, e as partes em alemão também me incomodaram um pouco.