Resenha | Mundo em Caos, Patrick Ness

Ainda abalada pelo final de Mundo em Caos, pretendo fazer o possível para expressar tudo o que este livro me proporcionou. Mas antes disso, vou destacar duas coisas muito importantes. A primeira, indico que você jamais escolha esse livro para realizar uma leitura em conjunto, onde há um cronograma a ser seguido. Em segundo lugar, é impossível você inicia-lo sem querer devorar todas as páginas o mais rápido possível.

Isso porque tudo neste mundo é novo. A partir do momento que você começa a ler, você não quer apenas entende-lo, mas também compreender os mistérios que surgem a cada página, então já dá para ter uma ideia de como foi difícil ter de respeitar um cronograma. Por consequência disso, o primeiro Abdução Conjunta foi um fiasco, porque cada um leu no seu tempo, mas eu consegui me manter fiel ao projeto.

Em Mundo em Caos, nos deparamos com um mundo em decadência. Sem condições de permanecer na Terra, a humanidade começou a migrar para outros planetas habitáveis. O Novo Mundo, como é chamado, parecia perfeito para acolher os humanos, mas eles não contavam com um germe que uma espécie alienígena expeliu. O germe resultou na morte de todas as mulheres e também foi responsável por fazer com que todos os pensamentos dos homens se tornassem audíveis, o que ficou conhecido mais tarde como o ruído.

“O Ruído é o homem sem filtro, e, sem filtro, o homem é só caos em movimento”.

Neste cenário conhecemos Todd Hewitt, o garoto mais jovem de Prentisstown. Ele mal espera para finalmente se tornar um homem e fazer parte oficialmente daquela sociedade, mas à medida que a data do seu aniversário se aproxima, uma atmosfera sombria e misteriosa também vem junto com ela. Todd nota que ele não conhece tudo sobre aquele mundo afinal, porque muitos enigmas circundam o lugar. Pessoas desaparecem, enquanto outras agem de modo estranho. Tudo o que ele sabe parece mentira, mas ele ainda não entende muito bem o porquê, e nem terá tempo para descobrir.

Depois de se deparar com um silêncio insuportável na floresta, algo bem parecido com um vácuo, livre de ruídos, Todd se vê frente a frente com uma garota. Este acontecimento em especial é apenas o início de vários outros tão estranhos quanto. Mas Todd é impedido de voltar para casa, porque sem saber, ele carrega alguns segredos que envolvem O Novo Mundo. Se quiser salvá-lo e também se salvar, ele terá que correr.

“A vida se resume a correr e talvez quando a gente parar de correr, saberá que a vida finalmente terminou”.

Começo enfatizando que a nova publicação dessa história pela editora Intrínseca está impecável, com direito a pintura trilateral na edição. A forma com que os ruídos foram apresentados foi muito eficaz, porque gerou desconforto e aflição. Páginas e mais páginas foram preenchidas com frases sem sentido, fontes distintas e confusas, exatamente o que o ruído causa nas pessoas.

O autor consegue trabalhar algumas questões muito importantes ao longo da narrativa, principalmente o poder que a história tem. Quando você não conhece a sua própria história, a ignorância cega e te impede de evoluir. Por outro lado, ele também foi capaz de ir a fundo e trabalhar muito bem os sentimentos que esse novo mundo reverbera, como a própria ignorância, a dificuldade de lidar com as diferenças e o ódio.

Durante a leitura, deu para entender muito bem o porquê o livro será adaptado. A narrativa é frenética, mal te dá tempo para respirar enquanto você acompanha a jornada insana e insegura dos personagens. Diversos capítulos possuem doses e mais doses de cliffhanger, e você precisa se segurar de verdade para não devorar tudo de uma vez.

“A esperança pode ser esta coisa que te puxa pra frente, esta coisa que te faz seguir avançando, mas também é perigosa, dolorosa e arriscada, e está desafiando o mundo e quando é que o mundo alguma vez deixou a gente ganhar um desafio?”

Minha principal crítica está relacionada aos mistérios que o autor cria no decorrer da história, mas peca ao segurar demais as informações. Dava para ter dosado melhor algumas revelações ao invés despejar tudo de uma vez, como foi feito. Alias, outra crítica é a forma com que o livro terminou, como se fosse mais um cliffhanger de um dos capítulos, e não o final. Tudo bem que foi o maior de todos, mas eu prefiro histórias fechadas, que não causam tanto desespero por não ter a continuação em mãos, rs.

Os personagens também foram muito bem trabalhados. Alguns deles foram completamente odiáveis, enquanto outros me fizeram torcer por eles do início ao fim. O meu personagem favorito é Manchee, o cachorro de Todd, que logo nas primeiras páginas já me conquistou. Aliás, foi estranho me acostumar com os ruídos do cachorro, mas o autor também trabalhou isso muito bem. Havia ali um toque de impulso e também ingenuidade, dando uma personalidade muito crível para o cão, o que particularmente achei genial.  

“Informação demais se torna simplesmente Ruído. E nunca, nunca para”.

Essa foi uma leitura em que sofri bastante. Sofri para lê-la aos poucos, pela ausência de informações, pela crueldade da trama… mas também foi uma história que me deixou completamente imersa e me fez recuperar o ritmo de leitura que eu havia perdido no início do ano. Entre críticas positivas e negativas, não dá para negar que o autor criou um mundo distópico inteligente, onde dá para inserir muitas questões.

Acredito que deu para perceber o quanto estou desesperada pela continuação, mas confesso que também estou bastante curiosa para conferir a adaptação cinematográfica, que está sendo produzida com o autor Tom Holland no papel de Todd Hewitt e a atriz Daisy Ridley. Esse é o segundo livro que leio de Patrick Ness, e já saquei que o autor possui essa escrita mais fluida e direta, mas que é capaz de te puxar para dentro da história com muita facilidade. Ah! E o Abdução Conjunta não foi um total desperdício, porque pudemos trocar algumas figurinhas (literalmente), sofrer por alguns acontecimentos e claro, surtar no final. Agora só me resta esperar mais do que ansiosa pela continuação.

Exemplar cedido em parceria com a editora.


Mundo em Caos

Título: Mundo em Caos #1
Autor: Patrick Ness
Tradução: Edmundo Barreiros
Editora: Intrínseca
Ano: 2019
Páginas: 480
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Sinopse: Em um mundo pós-apocalíptico, uma infecção rara e perigosa causou o inimaginável: a morte de todas as mulheres. O mesmo germe fez com que os pensamentos dos homens se tornassem audíveis, e agora o caótico Ruído está por toda parte. É impossível guardar segredos no Novo Mundo.
Todd Hewitt é o único garoto entre os homens da cidade de Prentisstown, e mal pode esperar para se tornar um deles. No entanto, o lugar esconde algo grave, capaz de mudar o futuro de Todd e do Novo Mundo para sempre. A apenas um mês de se tornar homem, um segredo impensável é revelado, e ele se vê forçado a fugir antes que seja tarde demais. Acompanhado por seu fiel escudeiro, o cachorro Manchee, ele empreende uma jornada repleta de perigos e se depara com uma criatura estranha e silenciosa: uma garota. Mas quem é ela? E por que não foi morta pelo germe como todas as mulheres?
Publicado em mais de trinta países, Mundo em caos é o primeiro volume de uma distopia perturbadora sobre os laços que forjamos em situações extremas e traz à tona a infinita insensatez humana diante das diferenças. A adaptação cinematográfica da obra terá Tom Holland e Daisy Ridley como protagonistas. A Intrínseca relança em uma edição especial, com tradução inédita e um conto extra, a série que consagrou Patrick Ness como um dos maiores nomes da literatura jovem.

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