Resenha | Vitorianas Macabras

Este é o ano em que finalmente estou me rendendo aos contos, um estilo de histórias que até então eu não era muito fã. Por esse motivo é que peguei Vitorianas Macabras em mãos com muita empolgação, apesar das ressalvas com relação ao gênero. Entre um misto de curiosidade e ao mesmo tempo medo, fui abraçada mais uma vez pela incrível introdução da tradutora Marcia Heloisa, que nos prepara muito bem para o que está por vir.

A Era Vitoriana remete-se ao período em que a rainha Vitória regeu o Reino Unido, durante 63 anos, de 1838 a 1901. Na introdução, Marcia ressalta o paradoxo que esta era representa, porque ao mesmo tempo que o Reino Unido vibrava e era o centro dos acontecimentos da Europa, ele também era muito obscuro, palco de circunstâncias muito bizarras.

A fascinação das pessoas pela morte e pelo desconhecido era reflexo da principal figura do Estado, a rainha Vitória, que ao perder o marido mergulhou em um luto profundo, permanecendo assim até o final de sua vida. A obsessão da rainha em contemplar o espectro do marido fez com que ela preservasse não só o luto, mas tudo aquilo que era de posse dele, como roupas, papéis e objetos pessoais. Sem sombra de dúvidas, ela foi não só a rainha, mas a vitoriana mais macabra de todas.

A partir de toda essa contextualização, a empolgação com relação as histórias só aumentou. Antecedendo cada conto das 13 autoras selecionadas, há uma pequena biografia que nos apresenta um pouco a cada uma delas, todas mulheres ilustres que contribuíram muito para a literatura em tempos em que suas vozes não eram nem um pouco valorizadas. Portanto, esta edição também é uma homenagem àquelas que, nas palavras da própria tradutora, “São mais que vitorianas. São vitoriosas”.

Com relação às histórias, meu medo se deu por motivos em vão. Me diverti e me senti entretida demais pelos contos, sentimentos provocados pela imersão que o livro apresenta como um todo. As histórias possuem elementos fantasmagóricos, de terror psicológico e também teor melancólico. Alguns foram divertidos de acompanhar, enquanto outros foram mais tensos e assustadores.

Foi uma experiência inigualável. Me senti sentada em uma roda de amigos ou acompanhada da família, dividindo histórias assustadoras que alguém jura ter presenciado. Ou que o amigo de um amigo presenciou, claro. São histórias nostálgicas, que dão o famoso arrepio na espinha e ao mesmo tempo frio na barriga de empolgação.

É difícil selecionar o meu conto favorito, porque eu gostei de todos. Há aqueles que conseguiram despertar mais o meu interesse, principalmente os que continham um toque de suspense na trama, como A Janela da Biblioteca e o Coche Fantasma. Apesar de diferentes, todos despertaram em mim algo semelhante, como a expectativa de desvendar cada trama. Se você quiser assistir o vlog de leitura, confira aqui.

Para finalizar, há também o extra no final do livro. Lá, um pouco mais da era vitoriana é compartilhado, bem como seus costumes e locais com acontecimentos bizarros. Há inúmeros filmes referentes às histórias, às autoras ou até mesmo figuras importantes do período, como a própria Rainha.

O livro funciona muito bem em conjunto. Desde o capricho da edição, a incrível introdução, as mini biografias, os contos e os extras, tudo contribui para uma experiência muito marcante, que será lembrada com muito carinho. Me senti privilegiada por conhecer um pouco mais sobre este período que ficou marcado por suas excentricidades, mas principalmente pela oportunidade de conhecer autoras renomadas, que foram silenciadas inúmeras vezes, mas que tiveram a força necessária para hoje, servirem como espelho e motivação.

Exemplar cedido em parceria com a editora.


Vitorianas Macabras

Título: Vitorianas Macabras
Autoras: Violet Hunt, May Sinclair, Elizabeth Gaskell, Louisa Baldwin, Margaret Oliphant, Charlotte Brontë, H. D. Everett, Vernon Lee, Rhoda Broughton, Charlotte Riddell, Edith Nesbit, Amelia B. Edwards e Mary Braddon.
Tradução: Marcia Heloisa
Editora: Darkside Books
Ano: 2020
Páginas: 384
Skoob | Goodreads | DarksideAmazon

Verdadeiramente assustadoras, as histórias desta antologia foram ecoadas em contos e romances publicados nos séculos seguintes, uma proeza e influência que apenas as tramas mais poderosas poderiam conseguir. Aqui, o medo se manifesta de diversas maneiras, todas elas terríveis, impressionantes… e difíceis de esquecer. Não vamos contar todos os segredos, mas aqui vai um gostinho do que está por vir: “A Prece”, de Violet Hunt, é uma espécie de avô de Cemitério Maldito; o perturbador “Onde o Fogo Não se Apaga”, de May Sinclair, reproduz a tensão dos slashers com a profundidade do terror psicológico; “O Conto da Velha Ama”, de Elizabeth Gaskell, e “O Mistério do Elevador”, de Louisa Baldwin, apresentam fantasmas memoráveis; já em “A Janela da Biblioteca”, Margaret Oliphant traz um ensaio melancólico sobre o fantasma da solidão.
“A voz dessas autoras é única, suas vidas são o verdadeiro assombro diante da grandeza de suas obras até então esquecidas”, afirma Christiano Menezes, diretor editorial da DarkSide®. “Há muito tempo eu não era tocada por textos tão poderosos”, completa Marcia Heloisa.
Vitorianas Macabras reúne ainda histórias de Charlotte Brontë, H.D. Everett, Vernon Lee, Rhoda Broughton, Charlotte Riddell, Edith Nesbit, Amelia B. Edwards e Mary Braddon. Essas mulheres, além de serem figuras ilustres do protagonismo feminino, tinham em comum, é claro, o amor pela literatura: passaram a vida escrevendo, transformaram as palavras em seu ofício e tocaram inúmeros leitores com seus escritos. Agora, chegou a sua vez.

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