Resenha | Ordem Vermelha: Filhos da Degradação – Felipe Castilho

E se eu te disser que Ordem Vermelha: Filhos da Degradação é mesmo tudo isso que estão dizendo? E mais, esse livro representa tudo aquilo o que eu espero de um livro de fantasia escrito nos dias atuais. Minha história com Ordem Vermelha começou na CCXP, com a minha surpresa diante de uma divulgação pesada e grandiosa; me senti nos arredores de Untherak diante da estátua da soberana, sob o seu olhar, porque para onde quer que eu fosse, Una estava lá, me observando.

“Chegamos até aqui porque não temos medo de rastejar. (…) É isso o que acontece quando se é forçado contra o chão por tanto tempo. Aprendemos a não temê-lo”.

A premissa despertou o meu interesse logo de cara, porque apresenta um mote que aprecio bastante. No início, existiam seis deuses que criaram todo o mundo e várias raças para usufruir e habitá-lo em total harmonia. Uma raça em especial, os humanos, começaram a prejudicar essa paz através de cobiça e inveja entre as espécies, desencadeando numa guerra sangrenta.

Decepcionados, os deuses resolveram revidar através de pragas e tragédias, destruindo aos poucos sua criação. O mundo se restringiu a uma única fração de terra habitável, cercada por um deserto denominado Degradação. Quando a guerra chegou ao estopim para os deuses, eles decidiram se unir como uma só figura divina e dar uma última chance às suas criaturas.

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Com isso, Untherak é conhecida como a última região habitável do mundo, governada há mil anos pela deusa Una. Diante de um regime milenar tirano, opressivo e recheado de desigualdade, um grupo improvável começa a se formar afim de se rebelar e desbancar a soberana.

“Untherak era um corpo doente, como a maioria de seus moradores”.

A apresentação do mundo se inicia de forma linear, com uma narrativa que exibe o mundo de forma precisa e empolga bastante.  Até um terço do livro, apesar de estar gostando da apresentação do universo, eu estava um pouco preocupada. Todos que me acompanham sabe que um livro me conquista de verdade quando apresenta uma boa construção de personagens. E a princípio, eu senti falta disso.

Porém, no decorrer das páginas compreendi o que Felipe estava fazendo. Ele começou a nos apresentar a sua história com bastante calma. Primeiro, destacou a construção de mundo nos fazendo acompanha-la através do ponto de vista dos personagens centrais, que serviram como plano de fundo, nossos olhos para enxergar e entender como as coisas funcionavam. Por causa disso, os primeiros capítulos podem parecer um pouco densos e complexos, mas isso vai mudando conforme a história avança.

“O medo nos diz coisas que não ouviríamos em dias de coragem”. 

A variedade das raças foi algo que me agradou muito dentro deste universo. Aqui, você verá humanos, anões, sinfos, gigantes, kaorshs e gnolls, cada raça muito bem apresentada, com costumes e filosofia de vida. Os kaorshs em especial, foi a raça que mais me cativou. Bastante parecidos com os humanos, os kaorshs apresentam uma fisionomia esguia, mais alta e possuem a incrível habilidade de camuflagem.

Depois dessa introdução, comecei a me aproximar aos poucos dos personagens. E como vocês devem imaginar, já que deixei bem claro que adorei o livro, o envolvimento com eles aconteceu no tempo certo. A princípio nós acompanhamos a história através de dois pontos de vista diferentes. Aelian é um humano que trabalha no poleiro, local responsável por distribuir correspondências. Com o espírito aventureiro, ele cumpre com suas responsabilidades, mas dá seus pulos para escapulir de vez em quando para desfrutar de um pouco de liberdade. Já através do ponto de vista de Raazi, uma kaorsh, visualizamos os primeiros passos de um plano ousado e arriscado para derrubar Una.

Todos os personagens fundamentais tiveram uma boa exibição e desenvolvimento, apresentando facetas intricadas e reais. Alguns personagens foram melhor trabalhados do que outros, mas acredito que o autor ainda terá tempo e espaço para desenvolvê-los melhor. O mais interessante foi assistir à união de personagens tão diferentes um do outro, com diferentes graus de experiência e maturidade.

“De certa forma, a miséria acabou nos transformando em iguais, de uma maneira que Una jamais conseguiu”.

Um dos meus personagens favoritos foi Ziggy, um sinfo de estatura pequena. Um personagem que exala inocência e fragilidade, mas que surpreende nos momentos mais precisos. Ele apareceu de forma despretensiosa, mas foi ganhando destaque e importância no decorrer da história.

Quando a história começa a se desenrolar, ela atinge um ritmo frenético, de tirar o fôlego. Se você é do tipo de leitor que gosta de testar o coração, se prepare para essa leitura. A história possui inúmeras reviravoltas, que chocam e fazem você enlouquecer. As cenas de luta e ação foram absurdamente bem descritas.

Acham que ainda dá para melhorar? Talvez um dos toques que mais me surpreendeu, foi encontrar a presença natural de diversidade e representatividade dentro da história. Um elemento que foi inserido com naturalidade e fez o livro dar um salto nas minhas considerações. Sem contar a presença de tantas personagens femininas guerreiras, fortes e inspiradoras.

“O tempo tem a capacidade de mudar tudo, exceto a si mesmo”.

Quando finalizei a leitura, tive uma sensação incomum, como se tivesse lido um calhamaço – considerando a construção de mundo muito bem-feita, o desenvolvimento de personagens e os inúmeros acontecimentos que quase fizeram o meu coração parar. Mas não, o livro tem pouco mais do que 400 páginas, o que prova que Felipe Castilho soube preencher muito bem cada página.

Filhos da Degradação também oferece à nós, brasileiros, uma leitura especial. Várias críticas sociais estão inseridas de forma sutil e natural, que atingem em cheio, nos fazem refletir e comparar com a realidade em que vivemos. E algo que não posso deixar de comentar, a edição está maravilhosa. Você nota que tudo foi feito com muito empenho e carinho, desde as ilustrações, da capa e do mapa – que estão lindíssimos – até a diagramação.

“Alguns infernos duram mil anos; outros, um dia. Mas nenhum é melhor que outro”.

É com muita felicidade que posso admitir que Filhos da Degradação é sim tudo o que dizem, e muito mais. Conseguiu superar as minhas expectativas – principalmente através das particularidades. E sabe o que é ainda melhor? É nacional, de extrema qualidade e que mereceu toda a atenção que teve.

Então, se você for fã de fantasia, faça um favor a si mesmo.  Leia. E por favor, depois venha conversar comigo. (PRECISAMOS FALAR SOBRE AQUELE EPÍLOGO). Felipe, quando sai o próximo? 🙂

Exemplar cedido em parceria com a editora.


Ordem Vermelha: Filhos da DegradaçãoTítulo: Ordem Vermelha: Filhos da Degradação (Ordem Vermelha #1
Autor: Felipe Castilho
Editora: Intrínseca
Ano: 2017
Páginas: 448
Skoob | Goodreads | Amazon

SINOPSE: Você destruiria seu mundo em nome da verdade?
A última região habitada do mundo, Untherak, é povoada por humanos, anões e gigantes, sinfos, kaorshs e gnolls. Nela, a deusa Una reina soberana, lembrando a todos a missão maior de suas vidas: servir a Ela sem questionamentos. No entanto, um pequeno grupo de rebeldes, liderado por uma figura misteriosa, está disposto a tudo para tirá-la do trono.
Com essa fagulha de esperança, mais indivíduos se unem à causa e mostram a Una que seus dias talvez estejam contados. Um grupo instável e heterogêneo que precisará resolver suas diferenças a fim não só de desvendar os segredos de Untherak, mas também enfrentar seu mais terrível guardião, o General Proghon, e preparar-se para a possibilidade de um futuro totalmente desconhecido. Se uma deusa cai, o que vem depois?
Ordem Vermelha: Filhos da Degradação é o preâmbulo da jornada de quatro improváveis heróis lutando pela liberdade de um povo, um épico sobre resistir à opressão, sobre lutar contra o status quo e construir bravamente o próprio destino. Porta de entrada para um novo mundo com inspirações de fantasia medieval, personagens marcantes e uma narrativa que salta das páginas a cada vila, ruela e beco de Untherak. O primeiro livro de fantasia que a editora Intrínseca lança em parceria com a CCXP – Comic Con Experience, escrito por Felipe Castilho em cocriação com Rodrigo Bastos Didier e Victor Hugo Sousa.

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13 Comments

  1. Virei o verso

    Olá Gi tudo bem ?
    Eu fiz no fim do ano passado um post sobre o lançamento desse livro, ele já esta na minha wishlist e ainda esse ano faço essa leitura . Eu gosto muito dessa construção de mundo e o melhor o autor é brasileiro. Como nossos livros nacionais tem crescido.
    Ótima sua resenha um beijo…

  2. Jessica | Fantástica Ficção

    Oiie. Esse livro acaba de entrar para lista do eu preciso (desesperadamente). Todos os pontos que citou sobre a obra são pontos que eu realmente gosto em uma leitura de fantasia. Uma fantasia só é uma fantasia se tiver boas descrições e bons personagens.
    Parabens pela resenha.
    Me deu uma super vontade.
    Beijos.
    Fantástica Ficção

  3. citationb

    “tô IMPACTADA” esse livro é um arrasooooo.E ai Felipe, quando sai o próximo? rsrsrs

  4. Paixões Literárias

    Oie
    Amei sua resenha, deu pra perceber sua empolgação, deve ser um livro maravilhoso mesmo. Bacana saber que tem uma mistura de raças grande no livro, certeza que iria adorar isso. Além disso, amo fantasias, já quero ler essa. Espero gostar tbm.
    Bjos, Bya! 💋

  5. fabielymiranda

    Nossa que livro! Amo fantasias, ainda mais quando envolvem essa temática pós apocalíptica regada a mitologia. Sem dúvidas o universo me pareceu bem construído e incrível. Tudo o que citou me deixou bem curiosa para ler!
    Beijos

  6. Amor pelos Livros

    Oieee,
    Que resenha! Maravilhosa!
    Estou namorando esse livro desde seu lançamento, e toda vez que vejo o Omelete fazendo a propaganda mais minha vontade de ler aumenta, e agora sua resenha só triplicou essa necessidade.
    Com certeza o lerei!

  7. Crônicas de Eloise

    Que resenha linda e bem escrita!!
    Meu namorado leu esse livro a pouco tempo e não parou de falar dele. É um livro que está na minha meta de leitura e que estou curiosíssima para conhecer. Acho um verdadeiro desafio criar uma história de fantasia, com seu próprio universo, personagens, religião, política…e acho incrível quando o autor consegue desenvolver uma história assim com maestria.

    Você me encantou com sua resenha e animação, fiquei curiosa para conhecer Ziggy e essas personagens femininas fortes que você diz que há no livro.

    Amei demais, obrigada pela indicação!
    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com.br/

  8. clubedofarol

    Eu tinha visto só a capa desse livro no Skoob e no Instagram, mas não sabia o que esperar e nem que era uma fantasia nacional! Amo fantasia e quando bem escrita é impossível não amar e querer mergulhar no universo criado. Essa variedade de raças é um atrativo a mais, assim como tudo que você falou, rs. Eu senti a sua empolgação pelo livro só de ler a resenha, estou imaginando o quanto deve ser bom. Quero ler para ontem e ficar empolgada assim também.
    Parabéns pela resenha!
    Bjo
    ~ Danii

  9. jOYCE

    Que resenha fantástica, apesar de não muito fã de fantasia, adorei a premissa do livro.
    Vou anotar a dica aqui e assim que me familiarizar mais com o gênero quero conhecer a obra, um bjão e foi uma ótima indicação.

  10. Tatiana Castro

    Olá!
    Omg, preciso ler esse livro agora ❤️😍. A capa já mostra a qualidade dessa edição. Sou louca por enredos que detalham bem o mundo fantástico. Me pareceu que o autor bebe tanto da vertente do RPG, quanto de Tolkien, pai de todas as fantasias.
    Beijos!
    gatitaecia.blogspot.com.br

  11. gataliteraria

    Oi Gi, arrasou na resenha! Adoro seus textos. Fantasia é meu gênero favorito e já quero desesperadamente esse livro. Nossos autores estão cada vez melhores né !

  12. Canto de Estante

    Olá.
    Estou loucaaaa para ler esse livro, todos estão falando tão bem e sou muito influenciável kkk.
    Adorei a resenha.

    xoxo

  13. Aline Bettú Bechi

    Olá, tudo bom?
    Eu gosto muito de fantasia e vi o pessoal falando muito bem dessa obra, e fico feliz que ela seja brasileira!
    Pelo jeito, o autor tem um jeito de conduzir a história um pouco diferente do comum, e gostei bastante disso. Adoro história com deuses e criatura. Sua resenha me ganhou!

    Beijos, Ally.
    Amor Literário

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