Blade Runner – Androides Sonham com ovelhas elétricas? Philip K. Dick

Quem nunca ouviu falar na obra de Philip K. Dick, Androides sonham com ovelhas elétricas? Ou como ficou conhecido após o filme clássico dos anos 80, Blade Runner? Não é só para os fãs de sci-fi, mas acredito que em algum momento da sua vida você já topou com essa obra (e se aqui for a primeira vez, YAY!). A questão é a seguinte, você pode encontrar inúmeras resenhas sobre o livro, por isso resolvi fazer algo um pouco diferente do que estou acostumada a fazer no blog.

Vou me aprofundar nas minhas experiências, tanto com relação a leitura do livro quanto ao filme, explorar o que senti descobrindo o universo, e ainda trarei algumas curiosidades sobre a obra e o autor.

PREMISSA

Rick Deckard é um caçador de recompensas. Mas diferente do que você imagina, ele caça androides foras da lei. Neste cenário, a Terra vive as terríveis consequências de uma guerra nuclear que resultou em uma poeira radiotiva que deteriorou o meio-ambiente, extinguindo diversas espécies de animais e plantas.

Grande parte da população emigrou para outros planetas colônias, mas parte dela (principalmente as pessoas com a saúde comprometida) ainda vive na Terra. Os animais que ainda existem se tornaram o maior desejo daqueles que permaneceram, um objeto de luxo para privilegiados. Rick Deckard, por exemplo, sonha em substituir sua ovelha elétrica – porque a réplica de animais se tornou assustadoramente comum – por um animal de verdade.

É por isso que ele pretende se dedicar ao máximo em sua próxima missão: capturar seis androides fugitivos de Marte. Para isso, ele utilizará o teste voight-kampff, um teste de empatia que tem como função apontar diferenças de comportamento entre humanos e androides. Entretanto, as coisas não se mostrarão tão fáceis assim. A tarefa será intensa e exigirá muito de Deckard, porque um estranho sentimento que confrontará sua moral irá surgir a partir dela. Se humanos sonham com animais de verdade, androides sonham com ovelhas elétricas?

LIVRO x FILME

Ler o livro me trouxe uma montanha russa de sensações diferentes. A princípio, confesso que demorei um pouco para entrar na história porque não estava entendendo muito bem. Lá pela página 50, decidi voltar e ler tudo novamente, e acredito que foi a melhor coisa que fiz. Só pra vocês entenderem melhor, este foi o meu primeiro contato com Philip k. Dick, então encarei esse estranhamento como algo natural.

Depois de me inteirar melhor sobre a trama, comecei a me encantar pelo universo apresentado pelo autor, principalmente ao notar as críticas que ele utilizou para construí-lo. A retratação do mundo é um tanto assustadora, mas essa é a principal função de uma distopia: horrorizar. As terríveis consequências de nossos atos estão presentes no seu universo futurístico, mas a forma com que os humanos encontram para lidar com elas, como o surgimento de uma nova religião ou os tipos de entretenimento é o que nos transtorna de verdade no decorrer da leitura.

A história em si me envolveu bastante, em especial os toques de humor e ironia. O meu interesse em sci-fi foi alimentado pela obra de Isaac Asimov, Eu, Robô, e um dos meus contos favoritos é justamente Evidências, que apresenta uma luta em tentar descobrir se uma figura pública é humana ou robô. Ou seja, este já é um tema que eu aprecio muito.

O ponto baixo do livro é a retratação das personagens femininas, que tinham potencial, mas ficou devendo bastante no desenvolvimento; e também o desfecho, onde se cria muita expectativa, mas ele é resolvido de maneira simples e rápida. Como primeira experiência lendo livro do autor, acredito que o resultado final pendeu mais para o lado positivo, então estou bastante curiosa para conhecer outras obras dele.

Em contrapartida, não tenho muito como balancear os pontos do filme dirigido por Ridley Scott, porque não foi uma experiência positiva para mim. Não aprovei a forma como o mundo foi adaptado, já que muita coisa interessante ficou de fora. Também não gostei como os personagens foram retratados, nem a escolha do elenco. Talvez a única coisa que achei interessante, foi que eles trabalharam um pouco mais a personalidade do antagonista Ruy Bart, algo que senti falta no livro.

Sei que ele foi inspirado na obra de Philip K. Dick, então mesmo não esperando total fidelidade, há muito da história do autor ali. Entretanto, as coisas que mais gostei no livro – como as críticas e o tom sarcástico com que a narrativa foi conduzida – infelizmente não estavam presentes no filme. Além disso, ele também se mostra muito problemático em algumas situações, como uma cena velada de estupro, então apenas enfiei o filme goela à baixo porque me comprometi em fazer essa comparação.

Concluindo, recomendo o livro, porque o universo criado por PKD vale muito à pena ser conhecido. Suas críticas provocam diversas reflexões, algumas que você vai percebendo aos poucos, porque a sementinha foi plantada. Discutir sobre o livro seria ainda mais interessante, então estou bastante curiosa para conversar com quem já o leu. Acredito que vou revisitar essa história em algum outro momento, porque com certeza irei captar sensações que passaram despercebidas dessa primeira vez. Infelizmente o mesmo não acontece com o filme. Não sei como seria minha experiência com ele isoladamente, mas por achar o livro superior e também pelas problemáticas, não o recomendo.

CURIOSIDADES

• No total, Philip K. Dick produziu 44 livros e cerca de 121 contos. Apesar dessa quantidade, ele teve pouco reconhecimento em vida, e foi a adaptação de vários de seus romances ao cinema que acabou por tornar suas obras mais populares, sendo aclamado pelo público e pela crítica.

• O Homem do Castelo Alto, publicado em 1962, foi um de seus livros mais aclamados, ganhando inclusive o Prêmio Hugo. Recentemente ele também recebeu uma nova edição pela editora Aleph.

• Androides sonham com ovelhas elétricas? Foi lançado em 1968 e ganhou uma adaptação cinematográfica em 1982, com direção de Ridley Scott e Harrison Ford como Rick Deckard. Philip K. Dick ficou incomodado porque ninguém o informou sobre a produção, alimentando sua desconfiança sobre Hollywood. Após isso, ele também criticou a versão inicial do roteiro, que passou por alguns processos de revisão.

• Depois dos reajustes, ele se sentiu bastante satisfeito com o roteiro reescrito. Ele viu, inclusive, um carretel com alguns minutos de efeitos especiais que foi exibido exclusivamente em um estúdio, que o deixou bastante empolgado. Entretanto, infelizmente PKD faleceu alguns meses antes da produção do filme finalizar e ser lançada ao cinema.

Philip K. Dick é conhecido por ter alterado profundamente o gênero da ficção científica, abordando temas políticos, filosóficos e sociais, realidades alternativas e entre outras questões. Suas histórias também refletiam e questionavam seus maiores interesses pessoais, como a realidade e a ordem estabelecida, a identidade, o uso de drogas, transtornos mentais e experiências transcendentais.

Exemplar cedido em parceria com a editora.


Blade Runner

Título: Blade Runner – Androides sonham com ovelhas elétricas?
Autor: Philip. K. Dick
Tradução: Ronaldo Bressane
Editora: Aleph
Ano: 2019
Páginas: 272
Skoob | Goodreads | Amazon

Sinopse: Rick Deckard é um caçador de recompensas. Ao contrário da maioria da população que sobreviveu à guerra atômica, não emigrou para as colônias interplanetárias após a devastação da terra, permanecendo numa San Francisco decadente, coberta pela poeira radioativa que dizimou inúmeras espécies de animais e plantas. Na tentativa de trazer algum alento e sentido à sua existência, Deckard busca melhorar seu padrão de vida até que finalmente consiga substituir sua ovelha de estimação elétrica por um animal verdadeiro; um sonho de consumo que vai além de sua condição financeira. Um novo trabalho parece ser o ponto de virada para Rick: perseguir seis androides fugitivos e aposentá-los. Mas suas convicções podem mudar quando percebe que a linha que separa o real do fabricado não é mais tão nítida como ele acreditava. Em ‘Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?’, Philip Dick cria uma atmosfera sombria e perturbadora para contar uma história impressionante, e, claro, abordar questões filosóficas profundas sobre a natureza da vida, da religião, da tecnologia e da própria condição humana.
Um novo trabalho parece ser o ponto de virada para Rick: perseguir seis androides fugitivos e aposentá-los. Mas suas convicções podem mudar quando percebe que a linha que separa o real do fabricado não é mais tão nítida como ele acreditava. Em ‘Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?’, Philip Dick cria uma atmosfera sombria e perturbadora para contar uma história impressionante, e, claro, abordar questões filosóficas profundas sobre a natureza da vida, da religião, da tecnologia e da própria condição humana.

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6 Comments

  1. Eloise

    Ei Gisele,

    Eu conheço a história apenas pelo filme, e mesmo não lendo o livro percebi que a adaptação ficou bem superficial. Apesar de ter achado confuso o início, eu entendi o universo apresentado no filme e tudo que envolvia a história a respeito do protagonista sendo um caçador de androides e tal, porém lendo a sua resenha percebo que a trama é muito mais do que isso daí (ler livros é outra coisa né). Já estava com interesse de conhecer o livro e fiquei ainda mais animada após ler suas impressões. E gostei de saber que a narrativa é conduzida de forma sarcástica, fiquei ainda mais curiosa para conhecer a escrita do autor. Adorei a forma que você organizou o post, ficou TOP e bem informativo.<3

    Bjokas da Elo!
    http://cronicasdeeloise.blogspot.com/

  2. Isa do @leportraitdeisa

    Gente como assim ele faleceu antes do filme ser lançado! Nossa fiquei chateada com essa curiosidade, coitado!
    Eu ainda não tinha tido nenhum contato com esse mundo heheh YAAAI hihihihi , e amei sua resenha!
    Me despertou a curiosidade tanto para o livro como para o filme, pois da para notar que é algo realmente muito complexo e interessante, principalmente em relação a pergunta “Quanto de humanidade um android tem?’ Achei muito legal mesmo hehehe parabéns pela resenha! <3

  3. Jacqueline Vasconcelos

    Oi,tudo bem ?

    Nossa muito bom achar sobre essa obra aqui, além de ter a comparação de livro x Filme. A proposta de ambos são instigantes e os dois são bem trabalhados. Poder encontrar as curiosidades deixou o post bastante completo, além da sua sinceridade nos relatos…as obras literárias são mais completas do que as cinematográficas, mas nem sempre mais cativantes…por isso foi bom encontrar o relato de ambos aqui.

  4. Mari

    Olá! Tudo bem?

    Eu nunca fui muito de ler ficção científica e agora estou me aventurando por esse mundo e me questionando o porquê de mão ter lido antes. Ótima resenha! Me fez colocar o livro na listinha! Ótima fotos também.

    Beijos,
    Blog Diversamente

  5. Viviane Ferreira Oliveira

    Tá aí um filme que não sabia que tinha livro, é raro isso acontecer!
    Amei saber seu ponto de vista e entendo como as vezes filme e livro são diferentes, nessas horas o melhor é extrair o que cada um tem de positivo mesmo 🙂
    Pelas suas observações do livro ele parece ser bem mais rico em detalhes e levantar questionamentos mais importantes na nossa existência

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

  6. Cecília Justen de Souza

    Ei! Tudo bem?

    Nunca li o livro por não me interessar muito pelo gênero, mas eu amava o filme, mesmo com tantos erros que ele parece ter. Se o livro é ainda melhor, acho que vale a leitura, mesmo que eu não goste muito.
    Adorei ler as curiosidades, é uma pena saber que o autor escreveu tantas coisas, mas só teve reconhecimento depois da morte, infelizmente isso é muito normal na literatura.

    Beijos!
    http://www.365coresdouniverso.com.br/

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