Resenha | Filhos de Sangue e Osso, Tomi Adeyeme
Iniciar um livro com muita hype sempre é difícil. Você precisa se controlar para não ir com muita sede ao pote, porque isso pode acabar prejudicando a leitura. Geralmente quando adquiro um livro muito desejado, só inicio a leitura no momento em que consegui controlar as expectativas. Com Filhos de Sangue e Osso isso não foi possível. Sabendo dos riscos, decidi encará-la mesmo assim, torcendo pra ela não ficar à baixo do que eu esperava e me surpreender de alguma forma.
Em Orïsha, a magia deixou de existir há mais de uma década. A maioria das pessoas acredita que os deuses, que forneciam essas magias, estão mortos. Alguns ainda têm esperança de que ela possa ser ressuscitada. Os divinais levam na memória a época em que a terra vibrava com o poder dos maji, uma época em que eles tinham liberdade.
A história é narrada através de três pontos de vista. A personagem central é Zélie, uma divinal. Os divinais tinham potencial para se tornar um maji e manipular a magia antes dela ser erradicada. Eles possuem algumas características físicas em comum, como a pele negra e os cabelos brancos. Zélie viu sua mãe, que era uma ceifadora, ser assassinada pelos guardas do rei quando ainda era bem pequena, e o fim da magia foi marcada para todos de forma muito trágica.
“Somos o povo que enche as prisões do rei, o povo que nosso reino transforma em trabalhadores forçados. O povo que os orïshanos tentam caçar por nossas feições, declarando ilegal nossa linhagem, como se os cabelos brancos e a magia morta fossem uma mancha social”.
Desde então, as coisas não ficaram muito melhores. Além da ausência da magia e dos parentes que se foram durante a tragédia, os divinais foram subjugados pelo rei e são considerados como uma raça inferior, sofrendo preconceito e diversos tipos de atrocidades. E nós podemos enxergar tudo isso sob o olhar indignado de Zélie, que é uma garota impulsiva e vive se metendo em confusões.
Em contrapartida também temos acesso ao ponto de vista de Amari, a filha do rei e o responsável pela morte dos maji. Amari a princípio se mostra uma princesa bastante frágil, mas seu verdadeiro potencial está contido pela sombra do pai. Aos poucos ela descobre quem verdadeiramente é e apresenta uma evolução surpreendente. Com nenhum defeito. Diante disso, ela foi se tornando minha personagem favorita ao longo do livro.
E por último e menos importante, também contamos com a perspectiva de Inan. Inan é o irmão mais velho de Amari, que irá suceder seu pai no trono. Através dele podemos conhecer um pouco do rei e suas motivações, ao mesmo tempo que visualizamos a mente conturbada de Inan. O príncipe de Orïsha deseja seguir os passos do pai e se tornar um bom rei, mas as duas coisas juntas parecem impossíveis.
Além dos já citados, também contamos com uma parcela de personagens interessantes e importantes, como o irmão de Zélie, Tzain. O relacionamento entre os dois, inclusive, é muito bem construído. Fazia tempo que eu não presenciava uma relação tão bonita entre irmãos.
O grande plot está na ínfima e talvez única chance de trazer a magia de volta e acabar de uma vez por todas com a repressão contra os divinais. Por um lado, temos Zélie, uma divinal forte que guarda os piores ressentimentos da monarquia. Do outro, um rei impiedoso, que fará qualquer coisa para manter a magia longe.
“Sempre estaremos com medo.
Nossa única esperança é lutar. Lutar e vencer.
E, para vencer, precisamos de nossa magia”.
Tomi Adeyeme tem uma escrita tão fluida, que ela foi capaz de conduzir a história e apresentar as informações do mundo com muita facilidade. Devorei a primeira parte do livro tão rápido que de repente me vi imersa dentro da história e já não me preocupava mais com as expectativas. Essa fluidez me lembrou bastante Alwyn Hamilton e a trilogia A Rebelde do Deserto.
Agora lembram no começo da resenha, quando desejei que o livro me surpreendesse de alguma forma? Meu anseio foi preenchido através do mundo e sua mitologia. Diversos elementos ricos que compõem essa história são inspirados na cultura iorubá, do continente africano. A mitologia e o sistema de magia foram exibidos aos poucos, e toda vez que uma fração era revelada eu me sentia ainda mais fascinada.
“Sem magia, eles nunca nos tratarão com respeito”.
A minha ressalva é quanto ao romance. Tudo estava fluindo tão bem, que quando aconteceu foi como um soco no estômago. Sério, precisava mesmo acontecer? A história estava maravilhosamente bem sem ele. Por esse motivo é que não dei nota máxima ao livro. Não sou a maior fã de romances, principalmente quando ele rouba toda a cena e deixa as outras questões em segundo plano, mas desde que ele seja bem desenvolvido e convincente, tudo bem.
Mas não é dessa forma que acontece aqui. Apesar do instalove, o seu desenvolvimento também não me agradou. Mais para o desfecho, as coisas ficaram mais interessantes, mas ainda acredito que nós poderíamos ter sobrevivido sem ele. Contudo, como essa é minha única queixa, precisamos exaltar o restante dessa história.
O final foi simplesmente de tirar o fôlego, fazendo com que meu coração martelasse no peito de ansiedade. Ao mesmo tempo que ele encerrou o conflito principal do livro, ele também deixou algumas pontas soltas e abriu um mar de possibilidades, e até então eu não sabia que se tratava de uma trilogia. Não preciso dizer que fiquei absolutamente aliviada quando constatei isso, porque estou muito curiosa sobre como as coisas irão se desdobrar a partir dos últimos acontecimentos.
“(…) Quer acreditar que seguir as regras da monarquia vai nos manter em segurança, mas nada pode nos proteger quando essas regras têm suas raízes no ódio”.
Filhos de Sangue e Osso possui elementos que prometem agradar a maioria dos fãs de fantasia YA, mas o grande forte dessa história está na sua representatividade e na exploração da cultura africana, que a torna diferente e muito necessária. Além de tudo isso, a edição está um capricho que só.
Título: Filhos de Sangue e Osso (O Legado de Orïsha #1)
Autora: Tomi Adeyeme
Tradução: Petê Rissatti
Editora: Fantástica Rocco
Ano: 2018
Páginas: 560
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SINOPSE: Zélie Adebola se lembra de quando o solo de Orïsha vibrava com a magia. Queimadores geravam chamas. Mareadores formavam ondas, e a mãe de Zélie, ceifadora, invocava almas.
Mas tudo mudou quando a magia desapareceu. Por ordens de um rei cruel, os maji viraram alvo e foram mortos, deixando Zélie sem a mãe e as pessoas sem esperança.
Agora Zélie tem uma chance de trazer a magia de volta e atacar a monarquia. Com a ajuda de uma princesa fugitiva, Zélie deve despistar e se livrar do príncipe, que está determinado a erradicar a magia de uma vez por todas.
O perigo espreita em Orïsha, onde leopanários-das-neves rondam e espíritos vingativos aguardam nas águas. Apesar disso, a maior ameaça para Zélie pode ser ela mesma, enquanto se esforça para controlar seus poderes — e seu coração.
Filhos de Sangue e Osso é o primeiro livro da trilogia de fantasia baseada na cultura iorubá O Legado de Orïsha e está sendo adaptado para o cinema.
Jessica Rabelo
Oi Gisele.
Uma das minhas maiores reclamações quanto a livros é justamente quando o romance toma lugar na história e medidas desproporcionais. Principalmente se o foco não deveria ser ele. Sinto que se eu lesse esse livro, sentiria raiva.
Mas gostei bastante da sua resenha. A premissa é bem interessante.
Beijos.
Eloise
Oi Gisele, adorei a resenha e as lindas fotos!
Estou bem animada para ler esse livro, amo quando a trama aborda magia e mitologia, isso me empolga demais! Também acho que dependendo de como o autor insere um romance pode ficar desnecessário, principalmente se a história tem outro ponto forte, isso acaba atrasando o andamento das coisas. Mas estou bem curiosa e empolgada para ler. Espero conhecer essa trama em breve!
Bjokas!
http://cronicasdeeloise.blogspot.com/
Amor
Oieee,
Eu estou, absolutamente ansiosa para ler esse livro, e cada vez que vejo fotos ou lenho resenhas minha vontade aumenta mais!
Amei a forma como você contou sobre o livro e o quotes que você selecionou… além do mais, essa capa é um primor, uma obra de arte de tão linda!
Parabéns pela resenha.
Maria Helena Medeiros
Olá!
Amei sua resenha e a sua sinceridade na escrita. Conseguiu chamar bastante a minha atenção para esse livro que eu não conhecia, foi a primeira resenha que li sobre ele. Adorei! Também gostei muito dos quotes selecionados, parabéns!
Beijos.
Clube do Farol
Acredita que eu tinha visto várias fotos desse livro no Instagram, mas não tinha parado nem para ler a sinopse? Ele parece ser maravilhoso! Mesmo com o romance que tenta roubar a cena, acho que a mitologia envolvida e toda a história em si deve compensar.
Eu também não sabia que era uma trilogia, e por isso vou esperar mais um pouquinho para ler, aí posso ler todos de uma vez e não ficar morrendo de expectativa, rs.
Parabéns pela resenha!
Bjo
~ Danii
Elisabete Finco
Ei sou uma pessoa que curte diversos gêneros literários e a sua resenha mostra um livro pra sair da zona de conforto e trazer além de uma ótima história várias reflexões. Talvez o romance tenha entrado na história por ser antagonista a guerra e a morte, mas pena que do jeito que foi trabalhado acabou ganhando um destaque maior do que deveria. E ainda com essa ressalva sua nota mostra que a história é muito bem construída e valeu a leitura. Beijos, Elis
Fabiely
Oi ,tudo bem? Que resenha mais linda. Adoro quando os livros trazem elementos culturais,que tornam tudo enriquecedor e permite ao leitor viajar enquanto o lê. Fiquei bem curiosa ao saber do desfecho final, amo quando esse leque de possibilidades é aberto e aguça leitor. Dica anotada.
Beeijos