Resenha | O Céu de Pedra, N. K. Jemisin

Já adianto que O Céu de Pedra é aquele tipo de livro que não decepciona. É impossível controlar as expectativas quando o assunto é a conclusão de uma grande saga, ainda mais diante de dois livros tão bons quanto foram A Quinta Estação e O Portão do Obelisco. Diante das respostas que eu finalmente tive, um dos sentimentos que mais prevaleceram foi a emoção, o que é esperado diante de um final de trilogia. Me senti emocionada por toda a construção da história, mas principalmente com relação as críticas e questões que a autora levanta sobre a sociedade.

Algo que notei sobre a trilogia d’A Terra Partida, é que cada livro possui o seu tom e estilo específico, tanto que fica até difícil compará-los entre sim. A Quinta Estação é um livro que nos fascina em diversos momentos – seja o universo muito bem estruturado, a forma com que a autora decide nos contar essa história, até o ponto em que as narrativas se entrelaçam e tudo finalmente começa a fazer sentido.

O Céu de Pedra é um livro transitório, onde descobrimos como as coisas realmente estão e para onde elas podem ir, o que por consequência disso faz dele um livro mais arrastado, mas não inferior aos outros. O Céu de Pedras é um livro de respostas e desfechos, que nos emociona diante de uma história que desde sempre se propôs a ser grandiosa, o que de fato ela é.

Mas por que ela é grandiosa? Diante de um cenário apocalíptico, onde o mundo se despedaça para novamente ser construído, nós sabemos que essa pode ser a última quinta estação. Uma das respostas que obtivemos, é que o evento que culminou o fim do mundo foi criado propositalmente por um horogene. Estaria ele louco, fora de si? Ou suas ações foram premeditadas, com um propósito maior?

Todas as citações são difíceis, “a Morte é a quinta, e ocupa o trono”.

Ao contrário de seu nome, a Quietude é um mundo instável, dominada por eventos sísmicos e desastres geológicos, como vulcões, tremores e tsunamis. Os horogenes são aqueles responsáveis por amenizar esses eventos, ou em determinadas situações, criá-los, como vimos logo no início de A Quinta Estação. Durante muito tempo, a sociedade nunca foi capaz de compreender e aniquilar esses eventos, nem descobrir como os horogenes estavam tão conectados a ele. A humanidade simplesmente se adaptou a ele e se preparou para o pior.

Parte disso é porque a história se perdeu no meio do caminho. Não há registros de como tudo começou, nem o porquê. Sabemos que uma história é fundamental e precisa ser valorizada, porque somente através dela é possível evitar os erros do passado, ou até mesmo consertá-los. Em O Céu de Pedra nós temos esse momento, a chance de avaliar o passado, mudar o presente e reconstituir o futuro.

“Ele fugiu. Foi demais para ele saber que tudo isso acontecera antes. Que ele era descendente de um povo abusado, que os antepassados desse povo também foram, por sua vez, abusados, que o mundo como ele o conhecia não podia funcionar sem forçar alguém à servidão.”

O que mais me emocionou durante essa leitura não foi a surpresa de me ver diante de um cenário futurístico, mas as questões que a autora trouxe à tona, questões com a qual me identifiquei. Durante a jornada da Terra, que atua como um verdadeiro personagem nessa história, me vi diante de uma sociedade ambiciosa que busca um poder desenfreado e oprime aqueles que ela considera diferentes e inferiores.

Essa é uma daquelas histórias em que não há um vilão definido. As pessoas podem ser consideradas heroínas ou vilãs, desde que assumam o seu papel e sua responsabilidade enquanto sociedade. A sociedade criou algo; você criou algo. Você consertou algo; a sociedade consertou algo. E sinceramente, achei essa percepção magnífica, porque ela nada mais é do que a verdade.

“Mas, para uma sociedade construída com base na exploração, não existe ameaça maior do que não restar mais ninguém para oprimir.”

Não encaixei a premissa nesta resenha, porque a altura deste campeonato você saberia o que encontrar. Estávamos ansiosos por respostas e um desfecho digno não só ao Pai Terra, mas também aos personagens que encontramos durante essa jornada, como Essun, Nassun, Alabaster, Hoa, Schaffa e tantos outros.

Ao invés disso, me deixei divagar e expressar todas as percepções e emoções que essa leitura gerou em mim, porque essa também é uma história filosófica. Afinal, uma trama diferente merece uma resenha diferente. A trilogia A Terra Partida se tornou não só especial, mas uma das minhas favoritas. Eu não mudaria nada nela, tudo foi feito de forma minuciosa, como se a autora tivesse começado a escrevê-la de trás para frente. Além de todos os elementos que diferenciam essa história afrofuturística das demais, ela também representa e insere questionamentos muito importantes.

Tenho um profundo desejo que as fantasias ou histórias futurísticas a partir daqui tivessem A Terra Partida como referência. Uma história completa, atual, diferente, que inclui e ainda critica. Uma história de extrema importância.

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O Céu de Pedra

Título: O Céu de Pedra (A Terra Partida #3)
Autor: N. K. Jemisin
Tradução: Aline Storto Pereira
Editora: Morro Branco
Ano: 2019
Páginas: 512
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É assim que o mundo termina.
Pela última vez.
A Lua em breve retornará. Se isso irá trazer a destruição da humanidade ou algo ainda pior dependerá de duas mulheres.
Essun herdou o poder de Alabaster Tenring. E com ele, tem a esperança de encontrar sua filha Nassun e estabelecer um mundo no qual toda criança orogene possa crescer em segurança.
Para Nassun, o domínio de sua mãe sobre o Portão do Obelisco vem tarde demais. Ela foi testemunha da perversão do mundo e aceitou o que sua mãe não quer admitir: às vezes o que é corrupto já não pode ser purificado, apenas destruído.
A marcante conclusão da trilogia best-seller do New York Times, ganhadora de três Hugo Awards em sequência.

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