Resenha | Frankenstein, ou o Prometeu Moderno – Mary Shelley

A verdade sobre Frankenstein

A parte mais prazerosa desta leitura foi, irrevogavelmente, a introdução, que nos apresentou à Mary Shelley e mostrou de forma muito efetiva como ela deu início à sua obra primorosa, quais foram suas influências e motivações. Foi incrível como me senti no século XIX, sentada diante de Mary em sua escrivaninha enquanto a mesma escrevia e detalhava sobre sua criação. Neste início, temos também detalhes sobre as edições e modificações que o romance teve, desde sua primeira publicação até esta que é mais conhecida por nós, de 1831.

“Ocupei-me em pensar uma história  —  uma história que rivalizasse com aquelas que nos incitaram a tal tarefa. Uma que falasse aos medos misteriosos de nossa natureza e despertasse um horror eletrizante  —  uma história que fizesse o leitor olhar ao redor apavorado, que fizesse o sangue gelar e acelerasse o pulsar do coração. Caso não conseguisse fazê-lo, minha história de terror não seria digna desse nome” — Mary Shelley.

Frankenstein é um romance epistolar, com histórias dentro de histórias. Robert Walton viaja com uma tripulação explorando as águas do Norte e relata com frequência seu cotidiano à sua irmã, através de cartas. Até que um dia, as coisas fogem da normalidade e Walton se depara com uma criatura, que mesmo de longe, desperta seu horror. Pouco tempo depois, ele topa com outro ser, desta vez um homem comum, com a saúde precária. Aparentemente o dano do homem não é só física, mas principalmente mental. Enquanto se recupera junto à tripulação, o homem decide desabafar e contar sua história para Walton. É a partir daí que passamos a conhecer a história de como Victor Frankenstein deu vida à uma criatura monstruosa e o que o levou até ali.

Confesso que, de cara, meu santo não bateu com o de Victor. A leitura, quando concentrada diretamente nele foi um martírio. Em nenhum momento arrastada, já que a escrita de Mary Shelley é bem fluida. Logo de início percebi que estava diante de um personagem egoísta e mimado. A partir do momento que aceitei este fato, a leitura começou a fluir enquanto eu me perguntava no que ia levar as consequências das ações irresponsáveis de Victor.

“Depois de incríveis dias e noites de trabalho e fadiga, obtive êxito ao descobrir a causa da geração de vida; mais que isso, tornei-me capaz de animar matéria sem vida.”

O momento da criação da obra de Victor foi um pouco frustrante, já que eu esperava um cenário um pouco mais mórbido, insano e um extremo ápice no exato momento em que a criação de Victor finalmente ganha vida. No entanto, o momento ocorreu rápido demais e sem o brilho necessário, e meu coração murchou por conta disso.

Após Victor ter êxito em sua experiência, ao se deparar com a criatura no qual criara, o arrependimento foi imediato. Apesar de ser fruto de sua criação, Victor sente-se aterrorizado pela forma da criatura monstruosa, então faz a primeira coisa que lhe vem à mente: foge, corre para longe do monstro e o deixa à deriva para seguir seu próprio destino. Uma atitude que lhe trará consequências trágicas depois.

Estar sob o ponto de vista de Victor não foi fácil, principalmente porque como disse anteriormente, meu santo não bateu com o dele. Esperava um personagem mais ambicioso e firme, mas acabei me deparando com homem covarde e dúbio. Em um reencontro com a criatura fruto de sua criação, tive um momento para respirar e então acompanhar o desdobramento do monstro, desde quando foi abandonado por seu criador.

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E, sem nenhuma surpresa, me identifiquei muito mais com o monstro do que com Victor. Consegui me envolver ao personagem, sentir suas convicções e me colocar no lugar dele. Diferente de como foi com Victor, consegui ter empatia com o monstro e compreender suas motivações.

“Em todo lugar vejo a felicidade que somente a mim é irrevogavelmente negada. Fui benevolente e bom; a infelicidade transformou-me em um demônio. Faça-me feliz e serei virtuoso novamente”.

Esta história apresenta muito mais drama do que horror, com alguns toques de ficção científica. A obra de Mary Shelley nos traz muitas reflexões sobre como tratamos algo que é diferente de nós, e também as consequências de atos mal-intencionados.

Até então, percebi também que havia recebido muitas influências distorcidas relacionadas ao monstro de Frankenstein, vindas de diversas plataformas diferentes. A criatura nada tem a ver com suas representações lentas e desprovidas de inteligência. Muito pelo contrário, através da obra original conseguimos visualizar como o monstro era inteligente e astuto.

Recomendo este clássico para todos que desejam saber a verdade sobre Frankenstein e trazer as reflexões que a obra apresenta para sua conduta. Além de ter gostado muito do livro, ele acabou despertando também o meu desejo de conhecer e me dedicar a outros clássicos.

Vale a pena citar também, o quão maravilhosa esta edição da Darkside está, com um design impecável e tradução muito boa. Sem sombra de dúvidas, Frankenstein se tornou um dos queridinhos da minha estante, por conter uma história tão significativa e uma edição de dar gosto.


Frankenstein, ou o Prometeu ModernoTítulo: Frankenstein, ou o Prometeu Moderno
Autor: Mary Shelley
Ano: 2017
Editora: DarkSide Books
Páginas: 304
Comprar: Frankenstein, ou o Prometeu Moderno 

Victor é um cientista que dedica a juventude e a saúde para descobrir como reanimar tecidos mortos e gerar vida artificialmente. O resultado de sua experiência, um monstro que o próprio Frankenstein considera uma aberração, ganha consciência, vontade, desejo, medo. Criador e criatura se enfrentam: são opostos e, de certa forma, iguais. Humanos! Eis a força descomunal de um grande texto.

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11 Comments

  1. cotonho72

    Bom dia Gisele,

    Finalmente visitei o seu blog, lindo por sinal, esse livro está na minha lista de desejados, tenho um grande vontade de ler esse clássico, sua resenha esclareceu bastante a história e a edição que realmente está linda, parabéns pela excelente resenha…bjs.

    http://devoradordeletras.blogspot.com.br/

  2. Jessica Rabelo | Fantástica Ficção

    Oii Gisele. Eu pretendo ler Frankstein um dia, quando estiver mais madura para lidar com a história. No momento, acho que o drama de Frankstein me convenceria mas não me conquistaria. Sua resenha me prova isso pois ao ler ela percebo que sentiria mais raiva do que tentaria entender os personagens.
    A propósito, tem razão. Essa edição esta linda.

    Fantástica Ficção

  3. Viviane Oliveira

    Ahhh só fiquei mais afim de ler!
    tb sempre tive a sensação do monstro ser devagar… olha só!
    Só pela resenha já me identifiquei mais com ele tb rsrs
    Acredito que essa introdução contando como foi escrever a obra colabora muito mesmo com nossa percepção, adoro saber sobre o processo criativo!
    ótima resenha Gi!

    osenhordoslivrosblog.wordpress.com

  4. clubedofarol

    Só pela sua resenha já sei que o meu santo também não bateria com o do Victor, rs.
    Sempre pensei que o monstro fosse mesmo desprovido de inteligência. Saber que ele é inteligente e astuto me deu a curiosidade de ler o livro que eu não tinha antes.
    Parabéns pela resenha!
    Bjo
    ~Danii

  5. fabielymiranda

    Oii !! Que resenha linda.Nunca li nada sobre o Frankenstein , apenas vi um filme. E achei o personagem do filme, como o descrito por você no livro, mimado e egoista kkk. Já com relação a narrativa de Mary fiquei bem curiosa, pois ela deve ser repleta de detalhes que dá um toque todo especial a trama. Com relação ao monstro fiquei bem curiosa, pois ele é retratado de maneira diferente do que pensei. A edição gráfica desse livro está maravilhosa, como sempre a Dark arrasa!!
    Beeijos e amei as fotos <3

  6. jOYCE

    KKKK, rindo alto quando você fala que se identificou mais com o monstro do que com o personagem.
    Achei incrível essa ediçao, a Dark sempre arrasa, mas no momento acho que não estou preparada para ler esse livro, parabéns pela sua sinceridade na resenha que por sinal ficou ótima, bjus e bom fim de semana.

  7. Papeando Livros (@papeandolivros)

    Oi, tudo bem ?

    Já ouvi falar muto bem deste livro assim como os outros livros da caveirinha. A capa está linda, assim como a sinopse e toda a proposta. Um quote está melhor que o outro, com toda certeza uma ótima dica de leitura.

  8. blogcomv

    Olá!

    Adorei a sua resenha, acredito que é uma leitura bem agradável e que eu gostaria, além de que achei a capa fantástica e muito bem elaborada <3 Também acho que gostaria da introdução, parece ser bem interessante 😀

    Um beijo, Carol
    blogcomv.org

  9. Amor pelos Livros

    Já estava curiosa para ler essa história, e depois dessa sua resenha ela só aumentou ainda mais. O conhecimento que tenho de Frankenstein é o que adquirir através de filmes, e parece que o que tinha em mente é o que é relatado por você. Eu também não acredito que ele seja o monstro, mas agora tenho que ler para saber se minha opinião está certa!
    Parabéns pela resenha, está incrível.

  10. Aline Bettú Bechi

    Olá, tudo bom?
    Preciso fazer a leitura dessa obra para a faculdade e foi muito bom saber um pouco mais da trama e a sua opinião sobre a história através da sua resenha. As fotos estão lindas.

    Beijos
    Amor Literário

  11. cancaodoslivros

    Olá! Tudo bem?
    Essa resenha está magnífica, bela escolha de palavras, essa edição de Frankenstein da Editora Darkside está na perfeição. Já li várias edições de Frankenstein mas essas com certeza está na minha lista para novas aventuras! Amei as fotos 👆❤ Estão lindas! Beijos 😘

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